No dia 3 de novembro, decorreu mais um encontRHo online promovido pelo IIRH – Instituto de Informação em Recursos Humanos. O tema abordado foi a “Formação: novos desafios, novas soluções”, sobre o qual vários especialistas partilharam opiniões acerca da transformação da formação no contexto atual, das aprendizagens e desenvolvimento das pessoas alinhados com a estratégia de negócio da empresa, de como converter a formação num instrumento de transformação da empresa, do conhecimento utilizando a tecnologia, entre outros.
O painel de especialistas contou com a participação de Margarida Segard, Diretora do ISQ, Osvaldo Santos, Head of Millennium Banking Academy do Millennium BCP, Paulo Jesus, Head of Learning & Innovation da Jerónimo Martins, e com moderação de Rui Mendes da Costa, Diretor Corporativo de Recursos Humanos na Águas de Portugal, Coach Executivo e de Equipas, Mentor e Professor Convidado. A iniciativa contou com o apoio do ISQ.
Rui Mendes da Costa começa por introduzir as temáticas, abordado o tema da aprendizagem: “aprendizagem é um conceito holístico”. Para este profissional, às vezes é mais importante ensinar as pessoas a aprender a aprender. Saber não chega, quando no dia a dia não se pratica o conhecimento, ou seja, saber algo não garante que esse conhecimento vá ser colocado ao serviço da organização. Nas palavras deste profissional, a Covid-19 foi fator acelerador de mudança, mas “mudou tudo e não mudou nada”: “mudámos a nossa forma de pensar e de agir”. Mas o especialista deixa a questão: demos um salto tecnológico e digital, ou apenas começámos a utilizar o que já tínhamos ao nosso dispor? Para o profissional, esta última ideia parece ser mais acertada. Ou seja, no fundo não estamos a vivenciar uma transformação digital, mas sim uma transformação de cultura, uma vez que as nossas crenças estão a ser postas em causa. De acordo com o profissional, o que sabemos através de estudos é que em trabalho remoto as pessoas trabalham mais mas não obrigatoriamente melhor, uma vez que isso só acontece se houver regras claras e disciplina. “Não existe um novo normal, tudo vai estar em constante mutação”. Para este especialista, torna-se essencial tornarmo-nos cada vez mais humanos, e manter o tema dos desafios muito vivo.
“Posso não escolher o que me acontece, mas escolho o que faço com o que me acontece”
Segundo o profissional, só é possível ter organizações sustentáveis à distância se houver confiança, e há que se aprender a trabalhar e liderar no desconhecimento. “É nos momentos de crise que vemos a cultura e os valores das organizações”. No fim da sua intervenção, Rui Mendes da Costa termina com uma frase de Miguel Torga: “O destino destina, mas o resto é comigo”.
“Na maioria das empresas, não atingimos maturidade digital, ainda estamos muito aquém do que se pretendia”
Margarida Segard, Diretora do ISQ, avança para a temática da formação, afirmando que o que se fazia antes e o que se faz agora é mais ou menos a mesma coisa em termos de modelos de formação, de processos e de modelos de aprendizagem. O que aconteceu foi o surgimento de um acelerador de digitalização nas empresas, incluindo na temática do e-learning. De acordo com esta profissional, a transformação digital já começou há cinco anos na Europa. No entanto, afirma: “na maioria das empresas, não atingimos maturidade digital, ainda estamos muito aquém do que se pretendia”. Segundo esta profissional, as academias corporativas surgem como resposta, cada vez mais flexíveis, sobretudo dentro das grandes empresas. E, embora muitas empresas estivessem aquém a nível tecnológico, muitas conseguiram superar essa adversidade.
De acordo com Margarida Segard, dados apontam que 98% das empresas e dos centros educativos e de formação, e centros de formação que incluem os centros corporativos de empresas, fecharam devido à pandemia. Dois terços mudaram para um formato online. No entanto, grande parte já está a recuar, abandonando até a digitalização e voltando para os sistemas mais presenciais. Segundo esta profissional, o ISQ trabalha muito a área de learning, desde a gestão de skills, competências de liderança, competências fluidas, entre outras. No entanto, Margarida Segard acredita que muitas dessas competências devem ser trabalhadas em ambiente presencial. “Podemos sempre recorrer a estas formas ágeis e flexíveis”, misturando ambientes presenciais com ambientes de realidade virtual, realidade aumentada ou com estimuladores, que são úteis na monotorização da performance de treino, de destreza manual, e que “dão feedback imediato, algo que um formador não consegue fazer”.
O ISQ também cocria academias, e conta com plataformas como a CornerStone, entre outras. Relativamente às plataformas, Margarida Segard acrescenta que “toda a gente sabe que têm imensas vantagens de learning e tracking, e podemos gerir estes percursos individuais”. Assim, o fundamental é colocar o formando no centro da aprendizagem e dar-lhe poder para tomar decisões, quer em termos de participação e melhoria da força de trabalho da empresa, quer quanto à sua felicidade pessoal. “O learning pode ser uma aprendizagem just in time, onde cada um tem a possibilidade de escolher os seus percursos”. Para esta profissional, o importante é que isto seja capitalizado na empresa e na vida profissional, reconhecendo os momentos de aprendizagem em termos de competências. Por tudo isto, torna-se cada vez mais essencial falar das micro credenciais, que “não são os diplomas formais, são formas de reconhecimento de competências, mobilizáveis e transferíveis”. Esta profissional prefere até usar o termo “macro rewards”. E acrescenta: “as empresas de uma forma geral reduziram significativamente as suas atividades de formação e de learning, algumas cancelaram”. Margarida Segard relembra a importância da aposta no upskilling e reskilling, e afirma que o learning não está a ser um forte investimento nas empresas. De acordo com a profissional, o recentrar das pessoas tornou-se também fundamental.
“As pessoas são o nosso bem precioso nas empresas”
“Temos sprinters”, pelo que “os burnouts começam a ser críticos”.
“Nós abanámos, mas não caímos neste tema da formação”
De seguida, Osvaldo Santos, Head of Millennium Banking Academy do Millennium BCP, afirma relativamente à sua organização: “nós abanámos, mas não caímos neste tema da formação”. O profissional conta que em março havia um conjunto grande de iniciativas de formação a decorrer, muitas presenciais, e que a primeira reação foi suspender toda a formação presencial que estava agendada, e não passar para o digital. Isto mantendo a esperança e avançando com tudo o que era digital, mas aguardando para ver o que o futuro reservava. O que verificaram foi que não havia expectativa de retomar a formação, pelo que fizeram o esforço de reformular todo o programa formativo da academia, transformando-o para o formato digital. Neste momento, encontram-se a acelerar os temas de formação. O profissional conta-nos ainda sobre a aposta da empresa: “no Millennium mantemos um rumo, que é o caminho que a empresa nos traçou para alcançar os objetivos”. Assim, conta que o primeiro grande objetivo é a aceleração da transformação digital, assente nas soluções de mobilidade, pelo que o desenvolvimento de competências se encontra muito alinhado com esse propósito. “Queremos apostar nas pessoas e na utilização do talento de cada uma delas, através de programas de desenvolvimento, motivando e envolvendo a agenda do banco”. E relembra: “temos de ter presente que o banco continua a viver o seu dia a dia, temos de viver com as duas mãos”.
De acordo com este profissional, o tema da segurança das pessoas e a própria gestão emocional são aspetos relevantes. E no que à formação diz respeito, Osvaldo Santos conta que nos primeiros cinco meses do ano, cada colaborador teve um dia por mês dedicado à formação, e quatro dias dos primeiros quatro meses foram dedicados a desenvolver as competências dos colaboradores.
“Realizámos mais de 1000 exames à distância, o que era impensável há meses atrás, era impensável certificar os conhecimentos em exames à distância.”
O profissional acrescenta que a empresa apostou em dois programas muito fortes em termos de desenvolvimento: a Academia Digital, que já tinha começado em outubro do ano passado e que assenta nas diversas necessidades das populações da empresa, e o programa de formação Millennium, que é dedicado a todos os colaboradores do banco e que tem como objetivo melhorar a literacia digital de todos.
A empresa desenvolveu ainda aquilo a que chamaram de “shots digitais”, que se traduzem em notícias de um ou dois minutos, sobre conceitos digitais, distribuídas todas as semanas para que os colaboradores desenvolvam as suas competências. Desenvolvem ainda formação na área da cibersegurança, na área das competências de agilidade e de colaboração, e procuram ainda sensibilizar a organização para este novo mundo. Foram também criados grupos, o Business e o Tech, que foram apoiados por tutores das áreas específicas de modo a identificar as necessidades formativas, cada vez mais individualizadas. Além disto, a empresa iniciou ainda outro programa dentro da Academia Digital, o InGenious, que procura acolher e desenvolver novos colaboradores nas áreas de tecnologia e analytics. Por fim, o profissional fala-nos ainda do tema das lideranças, que a empresa acredita ser a chave do futuro. Nesse sentido, a empresa apostou num programa de lideranças, que está a ser relançado e ajustado à nova realidade, e que remete para o trabalho remoto e para a liderança à distância.
“Hoje a realidade obriga-nos a mudar rapidamente para programas virtuais”
De seguida, Paulo Jesus, Head of Learning & Innovation da Jerónimo Martins, começa por introduzir o tema da virtualização de programas, que acredita ter sido amplificado nos últimos tempos. “Aqui na Jerónimo Martins trabalhamos muito em criar programas, e hoje a realidade obriga-nos a mudar rapidamente para programas virtuais”. Assim, este profissional acredita que existem três eixos de atuação fundamentais:
- A tecnologia: Nas palavras de Paulo Jesus, embora “achemos que estamos apetrechados em termos de tecnologia“, na verdade “estamos na Idade da Pedra” no que à tecnologia diz respeito, pelo que tem de ser dado um salto qualitativo do ponto de vista de tecnologia à disposição.
- Formação das equipas de learning: Para este profissional, a formação das equipas de learning é essencial para que seja possível fazer melhores conteúdos virtuais. Isto porque “estas equipas estão há anos a fazer outros tipos de conteúdos e têm de ser formadas para trabalhar de forma mais proficiente os conteúdos virtuais”.
- Dimensão de change management e de comunicação: “uma coisa é o que queremos fazer, outra coisa é o que as pessoas querem consumir”. De acordo com Paulo Jesus, “tudo isto obriga-nos a um programa forte de change, e neste tema de virtualização dos programas as nossas equipas vão mudar, vão ter de ser mais ágeis e interdisciplinares”. Para este profissional, está e vai acontecer o que aconteceu nas redações há uns tempos atrás: hoje o jornalista faz tudo, desde a redação da notícia, à sua publicação e à colocação de imagens. “As nossas equipas estão a mudar e vão mudar e precisamos de outro tipo de competências também”.
Para Paulo Jesus, outro desafio passa pelo mindset de apostar naquilo que são as academias estratégicas. “Tudo passa pelos líderes, e fizemos aí uma aposta muito forte”. De acordo com o profissional, a empresa está também a apostar fortemente a nível de gestão de categorias, que é uma importante academia a criar. Pessoalmente, Paulo Jesus acredita que vão “regredir um bocadinho e apostar apenas em conteúdos customizados, no que é verdadeiramente crítico e está ligado ao nosso negócio”. Outro desafio passa pela dimensão do informal learning: “lançámos uma plataforma de knowledge, que é de self development”, onde cada um faz a sua escolha, com conteúdos acessíveis a todos, que vão desde webinars, a artigos e podcasts. “Temos de dar este tipo de ferramentas às nossas pessoas para que tenham as ferramentas certas, para cada um ter a opção de escolher o seu ritmo e o que quer consumir”.
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