O Modatex está de parabéns pelo seu 8.º aniversário e pelo trabalho que este tem desenvolvido como pólo fundamental na formação na área têxtil em Portugal.
O setor têxtil está a mudar … Com a introdução massiva do uso de tecnologias em substituição do trabalho humano, os novos modos de organização do trabalho, a urgência do rejuvenescimento de mão de obra no setor e a elevação dos seus níveis de qualificação, está a conduzir a mudanças significativas nos processos de formação/aprendizagem. O InfoRH foi falar com o Presidente, José Castro, para melhor conhecermos
Em 2018 as exportações de têxteis e vestuário atingiram um recorde de 5.314 milhões de euros. Cada vez mais, este é um setor fundamental para a Economia Portuguesa?
A indústria têxtil e do vestuário (ITV) é, atualmente, um dos mais importantes setores empresariais nacionais. Um peso comprovado quer pelo valor das exportações que nos últimos anos atingiram recordes absolutos, bem como pela criação de emprego. Os dados de 2019 apresentam já indicadores mais cautelosos, uma vez que as exportações do têxtil português tiveram em junho um ligeiro decréscimo. Esta quebra teve repercussões no acumulado do primeiro semestre, que terminou com uma diminuição de 1,55% nas exportações, para um total de 2,68 mil milhões de euros, o que representa uma perda de 42,3 milhões de euros face ao período homólogo de 2018.
Estes dados refletem, de alguma forma, os tempos de incerteza na Europa (Brexit incluído), obrigando o setor a um esforço de reorientação de mercados e de produtos. Quem conhece a realidade do setor sabe que a espantosa evolução entre 2011 e 2018 só foi possível pela resiliência dos empresários, pelo grande esforço das empresas nos anos de crise e, sobretudo, graças à qualidade dos produtos nacionais e ao know-how adquirido durante décadas e constantemente aperfeiçoado. Só assim foi possível que Portugal reconquistasse mercados e chegasse a países que não eram destinos habituais das nossas exportações.
Neste tempo de eventual desaceleração, será relevante que o MODATEX se foque (também) no provável incremento dos ativos desempregados, procurando impulsionar programas de formação destinados tanto à sua “retenção” neste setor industrial, como à progressão das suas qualificações.
Qual tem sido a estratégia do Modatex para liderar na qualificação de pessoas para este setor?
Temos consciência das dimensões dos desafios e ameaças que continuam a pressionar o setor, que é marcadamente industrial, sobretudo em termos do investimento na atratibilidade de jovens e na renovação geracional, face à persistente/permanente falta de mão de obra qualificada. Com valores na ordem de um milhão de horas de formação por ano e cerca de 14 mil formandos, o MODATEX estará atento às novas exigências provocadas por um mercado cada vez mais global, proporcionando uma oferta formativa com uma forte componente prática e dando aos seus formandos a oportunidade de apostarem na aprendizagem ao longo da vida e na certificação das competências adquiridas (através da certificação RVCC PRO dos Centros QUALIFICA).
Para isso procuramos melhorar diariamente a qualidade da nossa formação, estando atentos a novas tendências, equipamentos e metodologias, porque sabemos que o ITV é um setor em constante evolução e queremos estar na vanguarda do que de melhor se faz internacionalmente. O MODATEX procurará atender com particular cuidado ao desenvolvimento das preocupações com a sustentabilidade e impactos ambientais das atividades das indústrias têxtil e vestuário, seja em termos dos processos produtivos como no incremento nos processos de reciclagem, reutilização e do chamado “design for recicling”. Ainda com algumas incertezas quanto ao que poderá (terá…) de mudar nos processos de aprendizagem, procuraremos seguir atentamente as recomendações dos stackeholders, bem como as melhores práticas das empresas mais inovadoras do sector.
O reconhecimento internacional, a confiança que em nós depositam as empresas e a satisfação dos nossos formandos dão-nos confiança no nosso futuro, mas também no futuro do setor ITV. O seu crescimento é motivo do nosso orgulho, mas é também um exigente confronto e desafio de fazer cada vez mais e melhor.
Como têm preparado os profissionais deste setor para a introdução de tecnologias substitutivas do trabalho humano e por conseguinte, novos modos de organização do trabalho nas empresas?
São muito exigentes os desafios que se colocam ao setor e como tal à formação de RH altamente qualificados para dar resposta às necessidades do mercado de trabalho. Investimos diariamente no desenvolvimento de processos de aprendizagem inovadores, em linha e até mesmo antecipando a aceleração tecnológica e dos processos produtivos da empresa. A formação à medida e em contexto de trabalho é uma realidade cada vez mais requisitada e premente. As empresas estão transformadas em espaços privilegiados de aquisição de competências e de conhecimentos. A aprendizagem ao longo da vida é outra realidade a que temos dedicado especial atenção.
Que processos de formação têm adotado com vista a melhorar as competências e qualificações dos atuais ativos do setor?
A qualificação dos recursos humanos é um dos fatores mais significativos para o crescimento e produtividade de uma indústria.
O MODATEX nasceu com o objetivo de contribuir para a melhor coordenação estratégica e operacional da formação no setor, responder de forma eficaz às necessidades de qualificação, aperfeiçoamento e reconversão das pessoas e das organizações e apoiar tecnicamente a Indústria Têxtil e de Vestuário. Captar jovens para a indústria e ajudar a reconverter os operários para a transformação digital são, atualmente, as mais exigentes apostas do MODATEX.
Uma das áreas a que temos dedicado especial atenção é efetivamente as necessidades de formação dos atuais ativos do setor. E este é um trabalho que temos desenvolvido em estreita colaboração com a indústria e com os seus decisores. Iniciamos recentemente um curso de formação em parceria com a Farfetch nos domínios de E-Commerce e Fashion Styling e que constitui um exemplo, entre muitos outros, de uma parceria de sucesso e que vai de encontro a uma necessidade identificada.
Sentem que nos últimos anos é um setor que atrai profissionais?
As áreas criativas têm sem qualquer sombra de dúvida um enorme poder de atração. As áreas mais técnicas não se apresentam tão desejáveis, mas temos vindo paulatinamente a crescer e solidificar a sua posição, sobretudo em áreas onde a taxa de empregabilidade é muito elevada, com possibilidade de evolução de carreira e com níveis de remuneração muito interessantes. O setor têxtil, nomeadamente a indústria, e todos os seus atores, têm ainda um longo caminho a percorrer no sentido de desmistificar a imagem negativa que a sociedade na sua generalidade tem sobre o trabalho na indústria (e no sector ITV). Portugal tem todas as condições para ser uma referência no setor têxtil e pela sua capacidade de atrair e fixar profissionais altamente qualificados e experientes.
Na sua opinião, o que acha que ainda poderia ser feito em relação ao emprego deste setor?
O grande desafio deste setor que, atravessa hoje um persistente problema de falta de mão-de-obra, é a sua capacidade de atratividade e de fixação de profissionais. A formação é cada vez mais indispensável. A forma como o financiamento público à formação está organizado, e que obriga a constituição de grupos com número mínimo de formandos para poder avançar com a ação, é também ele muito limitador e dificulta muito a capacidade de darmos respostas oportunas e em tempo real às necessidades e às solicitações do mercado. Todo este sistema deve ser repensado para nos permitir ser mais ágeis na constituição de uma resposta rápida a uma lacuna no setor. Precisamos de criar um modelo de formação que tire proveito da disponibilidade de tempo por ausência de trabalho para fazer algum upgrade tecnológico aos profissionais que momentaneamente se encontrem desempregados para que estes não abandonem um setor que atravessa um momento difícil no que se refere à disponibilidade de mão-de-obra.
A indústria portuguesa de têxtil e vestuário foi obrigada a transformar-se para conseguir sobreviver. Quais considera ser os desafios futuros para este setor em Portugal.
A indústria têxtil e do vestuário portuguesa é reconhecida pela produção sofisticada e de elevada qualidade, pela rapidez e eficácia da capacidade de resposta, pela flexibilidade e customização dos trabalhos desenvolvidos. Estas mudanças têm vindo a ser operadas ao longo das últimas duas décadas, mas muito impulsionadas pela grave crise que o setor atravessou e que “obrigou” a que o ITV se transformasse sob pena de se extinguir. Temos hoje uma indústria renascida e rejuvenescida que aposta na diferenciação, na qualidade, na tecnologia e no design. São empresas mais pequenas, mas muito mais flexíveis e com prazos de entregas mais curtos e rigorosos. A dependência do setor em relação aos mercados internacionais tem o reverso da medalha e em que as contingências externas podem pôr em causa o normal funcionamento das mesmas. A aposta na criação de marcas próprias com potencial de projeção internacional é fundamental para diversificar as oportunidades de negócio e posicionar o ITV num patamar acima na cadeia de valor. O investimento em tecnologia, na modernização das unidades fabris e no desenvolvimento de marcas próprias, surgirá acompanhado da necessidade de encontrar recursos humanos qualificados e com competências para dar resposta a um novo modelo de organização. A globalização torna-nos muito mais expostos e vulneráveis às mudanças operadas em outros países e que têm interferências nos setores e áreas de atividade! A indústria 4.0 e a economia digital são já uma realidade e colocam novos desafios ao conhecimento de toda a cadeia do ITV. Temos que ser ainda mais competitivos para conseguirmos antecipar a necessidade e dar uma resposta adequada.
Como é composta a vossa estrutura organizacional?
O MODATEX – Centro de Formação Profissional da Indústria Têxtil, Vestuário, Confeção e Lanifícios surgiu com base num protocolo celebrado entre o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP,I.P), a Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), a Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção (ANIVEC/APIV) e a Associação Nacional dos Industriais de Lanifícios (ANIL). Sedeado no Porto, tem delegações em Lisboa e Covilhã, pólos em Barcelos, Vila das Aves e extensões em Lousada, Marco de Canaveses e Pinhel. A estrutura orgânica do Centro compreende: os Órgãos Sociais – constituídos por representantes dos outorgantes do protocolo de criação do Centro, a Direção e as Unidades e setores de apoio à gestão e formação, constituída por uma equipa de colaboradores qualificados para apoiar os seus clientes.