Tal como referido na minha última crónica – caso tenham curiosidade, acedam aqui – hoje vou falar da mentalidade de crescimento (growth mindset). Trata-se de uma crónica a dois tempos, pois dificilmente poderei dissociar os respetivos conteúdos.
Mas por que é este tipo de mentalidade importante?
Da forma mais sucinta possível, posso afirmar que as pessoas com uma mentalidade de crescimento acreditam que tudo pode ser construído, tudo pode ser alcançado, tudo é uma possibilidade!
Faz toda a diferença, certo?
Contudo, não posso deixar, também, de fazer uma nota inicial.
Todas e todos nós oscilamos entre esta mentalidade e uma mentalidade mais fixa, até ao longo dos nossos dias, dependendo das situações e dos estímulos com que somos confrontadas/os.
Uma vez mais, como em (quase) todos os temas comportamentais, o desafio está na nossa capacidade de autoconhecimento, na consciência que temos de nós próprias/os e na vontade que tenhamos de atuar perante nós próprias/os.
A tabela infra é uma tentativa de resumo da distinção entre as mentalidades de crescimento e fixa, acima de tudo das diferentes crenças que nos dominam em cada uma destas abordagens:
Esta abordagem está linearmente relacionada com a dicotomia entre o locus de controlo interno e o locus de controlo externo, isto é, as pessoas que assumem a responsabilidade e apostam nas soluções em oposição às pessoas que se focam nos problemas, atribuindo sempre a responsabilidade a terceiros. Vários são os exemplos que se ouvem nas organizações: “foram instruções superiores e eu não tenho nada a ver com isso”, “a culpa é dos recursos humanos”, “eu até queria mas tive instruções diferentes”, entre outras hipóteses – enfim, desculpas, desculpas e mais desculpas!
A grande diferença passa pelo facto de assumirmos, ou não, o protagonismo, pois a outra hipótese passa por continuarmos a viver como vítimas!
Pessoas com uma mentalidade de crescimento e um locus de controlo interno tendem a:
- Sentir que controlam a sua vida (o seu destino), não partir do princípio que são controladas por fatores externos – não posso deixar de citar Miguel Torga: “o destino destina, mas o resto é comigo”;
- Considerar-se fortes e a sentir confiança perante a vida;
- Ser otimistas e a não sentir medo;
- Sentir-se satisfeitas consigo mesmas.
Adicionalmente têm uma crença fantástica – a de que tudo pode ser construído, tal como já referi, e que isso depende mais do esforço que da genética e do que é inato.
Aliás, vários estudos apontam que o que é inato em nós representa, tão-somente, 7 a 12% da nossa capacidade de aprender e de mudar, da nossa mentalidade. Dito de outra forma, mais de 90% do que pensamos, sentimos e fazemos depende apenas de nós!
Uma excelente notícia, concordam?
Outra boa notícia é que podemos trabalhar a nossa mentalidade de crescimento.
Existem quatro ingredientes principais:
– Esforço:
Eu sei que sou já de uma geração diferente, mas lembram-se de se dizer nas empresas que sermos esforçados não era suficiente? Pois, parece que, de facto, não é suficiente, mas é fundamental! Quem não se esforça, diariamente, para se conhecer melhor, para ser melhor, para chegar mais longe, dificilmente poderá construir;
– Desafios:
Nas empresas em geral ainda se fala muito de engagement e de compromisso. Penso que essa é já uma falsa questão no presente. Se tivermos desafios constantes para as nossas pessoas, elas ficam na empresa e vivem-na de forma plena. Caso contrário, sentem que já não têm nada a ganhar e acabam por sair. Esta é uma realidade ainda mais vincada nas novas gerações;
– Erro:
Chegámos ao ponto-chave! Só não erra quem não faz… É isto que queremos nas nossas organizações e não pessoas que tenham medo de errar, que não arrisquem dentro dos limites da razoabilidade. Mas atenção, mesmo o erro tem “regras”, isto é, sempre defendi que é extremamente importante existir uma cultura que fomente o erro, inclusive que garanta mecanismos e ferramentas para que as pessoas possam erram de forma rápida, mas só se deve errar uma vez no mesmo tema! Até no erro temos que estar constantemente a inovar… Se errarmos duas vezes na mesma questão, é sinal que não aprendemos com a primeira e isso, em si só, é um sinal de alerta. Sempre gostei de uma citação do Thomas Edison:
– Feedback:
Esta é outra das constantes fundamentais, até de forma intrinsecamente ligada ao erro. É através do feedback que podemos ter consciência da perceção que as nossas intenções tiveram junto de outras pessoas, é através do feedback que, por vezes, podemos refletir.
Volto a reforçar, porque é algo em que acredito mesmo: não existe feedback positivo ou negativo, apenas feedback construtivo, pois eu só darei feedback a uma pessoa se considerar que vou dizer algo que a pode ajudar, caso contrário o silêncio será sempre o meu melhor aliado. Se o feedback for dado desta forma, quando o recebemos apenas podemos dizer “obrigada/o” – depois, claro, faremos a nossa análise pessoal, tentando minimizar os nossos enviesamentos inconscientes, de forma a decidirmos se o feedback nos foi útil e nos deve convidar à ação.
Um desafio para a próxima crónica – pensem numa pessoa que seja uma referência para vós.
Pensem nas características que tornam essa pessoa especial. Durante os próximos dias, coloquem nos comentários a esta crónica 2 a 3 características principais dessa pessoa.
Este será o mote para a próxima crónica!