A Critical Software promoveu um programa para recrutar e formar pessoas com autismo/Asperger. A incorporação de oito novos profissionais é já uma realidade e a empresa de TI lança agora o repto às suas congéneres para, com este ou outro nome, criarem também o seu Programa de Neurodiversidade para Atrair Talento.
O
talento pode estar em qualquer um. A Critical Software fez desta máxima o fundamento do seu Programa de Neurodiversidade para Atrair Talento, dirigido à integração de pessoas com autismo/Asperger na empresa tecnológica.
Mas não se pense que este tipo de recrutamento descura, por pouco que seja, a ambição de qualquer processo de contratação: o enriquecimento das respetivas equipas de trabalho, neste caso concreto, as de testes e desenvolvimento de software, segurança informática e consultoria IT.
A coordenadora do programa, Catarina Fonseca, sublinha justamente a dimensão de captação de potencial de qualidade profissional da iniciativa: “O Programa de Neurodiversidade, surge, antes de mais nada, como um programa de talento. Numa altura em que estamos a fazer crescer a nossa equipa, faz todo o sentido aumentar e enriquecer a nossa base de recrutamento”.
Para a Critical Software, a iniciativa acaba por ser um passo natural, mais uma forma de integrar nas suas equipas pessoas que podem contribuir de forma significativa para o sucesso dos respetivos projetos.
A procura de qualidade tem precisamente nas perturbações para os quais o programa é dirigido um campo fértil e não uma interdição, como refere a People & Sustainability da Critical Software: “De facto, estudos apontam para o facto de pessoas com perturbações do espectro do autismo (PEA) poderem trazer competências extraordinárias quando estão motivadas para as TI, como sejam: o raciocínio lógico, a perseverança, orientação aos detalhes, reconhecimento de padrões, capacidade de manter o foco, honestidade e lealdade.”
Catarina Fonseca alude também ao outro eixo do Programa de Neurodiversidade, o da responsabilidade social: “Tendo sido recentemente reconhecida com a certificação B-Corp, a Critical tenciona também contribuir para um mundo mais justo e inclusivo, onde todos possam ser respeitados e valorizados pela sua forma de pensar, tendo oportunidade efetiva de integrar uma equipa com um propósito comum. Porque, citando Temple Gradin, ‘o mundo precisa de todos os tipos de mentes’.”
“Estudos apontam para o facto de pessoas com perturbações do espectro do autismo (PEA) poderem trazer competências extraordinárias quando estão motivadas para as TI”
O movimento B-Corp – que envolve perto de quatro mil empresas em 74 países – descreve-se no propósito de, um dia, todas as empresas se comprometerem a melhorar o seu impacto no mundo, respeitando valores de desempenho social e ambiental, transparência e responsabilidade legal.
70 candidatos, oito selecionados
Desde 18 de outubro que a empresa de sistemas e serviços de software passou a ter nos seus quadros, em plena atividade laboral, nas instalações de Coimbra e de Lisboa, oito profissionais com PEA ou Síndrome de Asperger.
Tudo começou em maio, com a abertura das inscrições para o programa (que encerrariam a 9 de julho).
Os requisitos, para além do diagnóstico já referido, eram a idade (a partir dos 18 anos), o interesse pela área tecnológica e conhecimentos base de inglês.
Concorreram 70 candidatos e oito foram selecionados para esta oportunidade inédita (na exclusividade) no mercado laboral português. Em setembro/início de outubro, frequentaram as cinco semanas do programa formativo que, naturalmente centrado no setor das TI, dedicou grande atenção à vertente das competências sociais.
Catarina Fonseca sinaliza a importância crucial deste período de aprendizagem e adaptação, abordando a sua dupla matriz: “Estas cinco semanas de formação que antecederam a chegada à Critical dos novos colegas foram determinantes para a sua posterior integração em contexto laboral”.
Neste período de adaptação e aprendizagem, o foco é colocado nas competências técnicas e sociais necessárias para o sucesso da inclusão. Assim, em termos técnicos, os formandos tiveram oportunidade de desenvolver em equipa miniprojetos de programação usando metodologias ágeis. Já em termos sociais, são trabalhados sobretudo aspetos de comunicação e organização pessoal, havendo acompanhamento individualizado por um coach que ajuda a definir estratégias para enfrentar os desafios, contribuindo para o desenvolvimento pessoal de cada um. No decorrer deste período houve um contacto progressivo e gradual dos formandos com a empresa e vice-versa. Segundo Catarina Fonseca, “esta fase formativa permite definir um perfil profissional para cada elemento que é um input determinante para a fase seguinte de integração e adaptação ao contexto de equipa em que irá trabalhar”.
Antes da entrada dos novos colegas, foram promovidas ações de sensibilização focadas nos temas da neurodiversidade e autismo
No recrutamento, a Critical Software teve a parceria da prestigiada Specialisterne – fundação dinamarquesa com presença pelo mundo (mas que apenas agora teve o seu primeiro projeto em Portugal), perseguindo a ambiciosa meta de empregar um milhão de pessoas com autismo/Asperger.
A coordenadora do Programa de Neurodiversidade para Atrair Talento refere à RHmagazine a segurança que esta associação à Specialisterne oferece: “Ao avançarmos com um programa desta natureza, queríamos fazê-lo com confiança no seu sucesso. Falar de inclusão de pessoas com autismo em empresas tecnológicas é abrir portas de esperança para estes jovens e respetivas famílias. Procurámos, por isso, associar-nos a especialistas internacionais, com uma metodologia sólida e comprovada de inclusão de pessoas com PEA em domínios tecnológicos. A Specialisterne providenciou o acompanhamento especializado de que precisávamos para maximizar a probabilidade de sucesso do programa.”
Num processo de integração com estas características, preparar quem já trabalha na empresa, que passará a contar com novos colegas, diferentes de todos os outros, também é vital. Catarina Fonseca considera que “as equipas Critical têm ajustes e adaptações que teríamos de fazer na integração dos novos colegas”.
Uma 2.ª edição no horizonte
A responsável pelo Programa de Neurodiversidade refere que a fase de incorporação “está a decorrer com tranquilidade”, com a segurança oferecida pela rede de apoio montada para reagir a alguma especificidade que surja nestes primeiros tempos, estando os novos colaboradores “em fase de integração nas equipas de engenharia em que irão contribuir de forma ativa”.
Desta forma, a segunda edição do programa já se perfila no horizonte: “Vemos o futuro desde programa com muito otimismo. Estamos confiantes no seu sucesso e nos benefícios que poderá trazer para todas os envolvidos. Esperamos poder avançar com uma 2.ª edição do programa em 2022”, afirma a coordenadora.
A Critical Software pretende mesmo ser o pivot do alargamento desta iniciativa a outras empresas de TI, que consigo partilhem a vontade de incluir a neurodiversidade nas suas equipas. Isto porque, como refere a responsável pelo Programa de Neurodiversidade, justamente a diversidade pode ser uma fonte importante de enriquecimento das equipas e da própria cultura organizacional.
Caso Prático publicado na edição n.º 137 da RHmagazine, referente aos meses de novembro/dezembro de 2021.
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