Hoje somos rodeados pelo tema de liderança e das boas práticas no local de trabalho. Textos e obras que propõem aos managers, diretores e executivos atitudes e aspirações que devem tomar nas empresas que lideram.
Este é um tema frequentemente citado por livros de Recursos Humanos, mas muitas vezes vemos estudos que apontam para o burnout ou falta de liderança nas empresas. No entanto, o fenómeno não é novo. A ausência de liderança ou de um espírito de missão para enfrentar os desafios da atualidade é algo que remonta a toda a história da humanidade.
A reflexão sobre o papel, a autodisciplina, a humildade, a racionalidade ou até a boa liderança é algo que esteve presente no pensamento de Marco Aurélio (121-180 d.C), Imperador de Roma entre 161 e 180. Marco Aurélio foi descrito por Nicolau Maquiavel como o “último dos cinco bons imperadores” do Império Romano, Império esse que colapsou em 476 d.C.
Entre os vários legados que o Imperador deixou para a Humanidade, sublinha-se “Meditações”, um conjunto de 12 diários que Marco Aurélio escreveu durante as suas campanhas na Germânia. Textos que incorporam pensamentos e pequenas reflexões que Aurélio pensou sobre um Império que estava em colapso. No entanto, as suas reflexões continuam a ser citadas por líderes e pensadores da atualidade.
Feito este preâmbulo, uma questão se impõe: o que pode os Recursos Humanos aprender com Marco Aurélio?
“Sou um membro do poderoso organismo que é composto por seres racionais”
No livro VII, Marco Aurélio escreve a reflexão 13, que escreve como:
“Numa unidade orgânica, os membros do corpo desempenham o mesmo papel que os seres racionais em existências separadas, uma vez que ambos estão aptos para uma operação conjunta. Este pensamento surgir-te-á mais nitidamente se disseres frequentemente isto a ti mesmo: ‘Sou um membro do poderoso organismo que é composto por seres racionais’. Se, em vez de um membro, disseres que és meramente uma parte, ainda não alcançaste um amor sincero pela humanidade”.
O que o Imperador quer explicar com esta reflexão é o seguinte: um líder, para ser líder, necessita de uma equipa. Não é nada sem os outros. Cada organização é composta por vários elementos. Um líder também deve ter em atenção as consequências dos seus atos e atitudes sobre os outros.
Uma liderança, quando pretende executar uma medida, deve refletir e ser sincero que, ao realizar meramente os seus deveres, não está a cumprir a sua função. Ou seja, numa empresa, todos estão em pé de igualdade.
“A verdade nunca magoou ninguém”
No livro VI, reflexão 21, Marco Aurélio escreve:
“Se alguém me conseguir convencer ou demonstrar que estou errado em pensamentos ou ações, mudarei de bom grado. É a verdade que procuro, e a verdade nunca magoou ninguém. O que magoa é a persistência no erro ou na ignorância”
Estar aberto a opiniões divergentes ou perspetivas novas é algo muito importante. Não só como uma perspetiva de transparência, transmitindo a imagem de uma empresa aberta, mas também numa perspetiva de aceitação.
Marco Aurélio diz-nos para ser recetivos, abertos. Porque perpetuar na ignorância não ajuda.
“Corre sempre pelo caminho mais curto”
A vida atual é muitas vezes complexa, difícil ou improvável. No entanto, a história da humanidade esbate-se por diversos desafios.
Numa altura em que assistia em Império Romano em colapso, Marco Aurélio escreveu:
“Corre sempre pelo caminho mais curto. É esse o que está de acordo com a Natureza. Fala e age de acordo com a mais sólida das regras, pois esta resolução libertar-te-á de muitos esforços e guerras e de todo o trato e ostentação ardilosos” (Livro IV; 51.)
Se existe uma solução mais fácil, deve aplicar-se. Esta lição também se aplica em empresas por seguir os princípios basilares, de forma a facilitar os processos e evitar conflitos internos.
Esta reflexão também pode ser aplicada no recrutamento. A complicação dos passos pode parecer pouco natural ou estranho para os candidatos. A agilização dos processos impede, de certo modo, problemas.
Não ter medo da mudança
Há quase 2.000 anos, Marco Aurélio também refletiu que a mudança deve ser encarada como uma oportunidade de mudança, externa e interna. E, por essa razão, os líderes não devem ser indiferentes.
“Temes a mudança? O que pode vir sem ela? O que pode ser mais agradável ou adequado à natureza universal? Podes aquecer o teu banho sem que a lenha sofra uma mudança? Podes ser alimentado sem que haja uma mudança na tua comida? Pode algo de útil ser feito sem mudanças? Não vês, então, que também esta mudança a ocorrer em ti é semelhante a estas e igualmente necessária à natureza do Universo?” (Livro VII; 18)
A mudança é inevitável nas empresas. Abraçar a mudança é algo que Marco Aurélio considera como a “natureza do Universo”. Igualmente, esta mudança acontece nas lideranças: novas ideias, mentalidades, comportamentos ou atitudes.
Há que estar pronto para as mudanças, incluindo nos Recursos Humanos.