Autora:
Rita Monteiro Mourão
Doutorada em Estudos de Comunicação, especialização em comportamento organizacional; Investigadora no CIES-iscte e docente convidada na Escola Superior de Comunicação Social
3 ideias a reter:
1 – A utilização das máscaras de proteção tem vindo a ser um tema controverso, mas que não deixa de estar “em cima da mesa” quando nos referimos aos profissionais, especialmente, àqueles que iniciam agora o trabalho presencial.
2 – É necessário perceber o conflito trabalho-família destes colaboradores e de que forma a pandemia tem vindo a impactar as suas vidas profissionais.
3 – É premente compreender como é que as empresas irão atuar no futuro. O teletrabalho vai perpetuar-se?
Setembro é o mês dos recomeços. Voltamos à rotina, voltamos ao trabalho, voltamos à escola e, agora, voltamos ao “novo normal”. Será que lhe podemos chamar assim? Filipe Froes, pneumologista e consultor da Direção Geral de Saúde, em entrevista à Sic Notícias, dizia que jamais lhe podemos chamar “novo normal”, mas antes “novo anormal”.
Não é normal os contactos com clientes, colegas e chefias serem feitos em exclusivo por via digital, nem o escritório ser o espaço de lazer dos nossos filhos ou o nosso cônjuge, de repente, fazer parte da nossa equipa. Não é normal, mas é necessário. Não é normal vermos as nossas turmas de ensino superior, reduzidas a metade ou a 1/3 e os professores terem de projetar a sua voz através de uma máscara, sem ter acesso direto aos rostos dos seus alunos. Não é normal, mas é necessário. Não é normal que as crianças não consigam brincar tranquilamente, sem ser através de um ecrã ou com uma distância mínima de 1 metro, nem que as escolas e universidades passem a ter apenas uma função instrumental, descurando-se a sua vertente social e
emocional tão importante para o crescimento dos alunos, enquanto seres humanos. Não é normal, mas é necessário.
Todos estes aspetos passaram a ser necessários para a manutenção da saúde pública! E o bem-estar dos colaboradores?
É certo que um confinamento é contranatura e que o conflito trabalho/família se evidenciou nos últimos meses, tendo até disparado o número de divórcios e de casos de stress pós-traumático. Também é certo que estamos perante uma crise económica, social, política e sanitária e que, as pessoas, na sua generalidade estão cansadas. Mas, será que queremos que este cenário se perpetue?
Alguns estudos têm vindo a evidenciar que as opiniões se dividem. Uma investigação recente e nacional, coordenada pela professora Margarida Gaspar de Matos, da Faculdade de Motricidade Humana, deu conta que 1/3 das pessoas sentiram-se melhor em regime de teletrabalho, 1/3 não sentiu qualquer alteração e 1/3 sentiu que seria pior o regime de teletrabalho.
É preciso, então, colocar as coisas na balança e tentar encontrar o equilíbrio. Esse tão desejado e, às vezes, utópico equilíbrio. Como é que podemos lá chegar? Não sei. Poucos sabem. É, sem dúvida, uma época de adaptação das organizações e dos colaboradores. Se por um lado, o trabalho presencial acarreta mais riscos de saúde física; o teletrabalho envolve riscos de saúde psicológica que não poderão ser descurados. Resta-nos estar mais atentos às recomendações daqueles que não sabem tudo, mas que sabem um bocadinho mais… aqueles que estão, que estiveram e que continuam a estar na linha da frente. Aqueles que tantas vezes têm sido criticados por não darem respostas definitivas, embrulhados, muitas vezes, em teorias da conspiração.
Quando verificamos que os protestos contra máscaras se acentuam em alguns pontos da Europa, devemos parar e refletir sobre o facto de a ciência ser feita de contradições constantes que possibilitam a evolução.
O papel das empresas é fundamental, existindo a necessidade de agirem de forma estratégica.
Claro que não é confortável passar grande parte dos nossos dias com o rosto tapado e distantes daqueles que nos são mais próximos. Também não é confortável que a nossa casa passe a ser o nosso escritório. Porém, e indubitavelmente que o desenvolvimento das tecnologias nos permitiu agir em diferentes contextos das nossas vidas, de uma forma rápida e eficaz. Valeram-nos o WhatsApp para comemorar aniversários com os amigos e
a família; o Skype para as reuniões diárias de trabalho; o Zoom para assistir às aulas e fazer exames.
A passagem abrupta do offline para o online salvou-nos a vida. Será que é normal? Não é normal, mas é necessário.
Setembro é, sem dúvida, um mês de diferentes recomeços.