No dia 12 de janeiro, decorreu o primeiro encontRHo online de 2021 promovido pelo IIRH – Instituto de Informação em Recursos Humanos (leia aqui sobre o último de 2020). Este encontRHo faz parte de uma viagem digital que o IIRH preparou para antecipar o evento premium da comunidade RH – o Fórum RH 2021.
O tema abordado foi «Portugueses pelo mundo… dos RH», sobre o qual vários especialistas partilharam as suas opiniões e experiências. No debate, foram exploradas as temáticas relativas à situação de relocation global pós-coronavírus, ao emprego e economia nas diferentes geografias e às novas prioridades do RH no mundo pós-pandemia. O painel de especialistas contou com a participação de Roberta Manoccio, sales executive na NetMove Brasil, Sandrine da Silva, consultora principal da Orange Consulting em França, Maria João Escrevente, diretora de RH na Unitel em Angola, e Rossana Veglia, relocation & immigration director da Global International Relocation (GIR) em Portugal. Esta iniciativa contou o apoio da GIR e com a moderação de Cristina Martins de Barros, Managing Director do IIRH.
Atividades paralisadas, trabalho remoto e relocation
Rossana Veglia da GIR Portugal inicia o debate referindo que o seu setor foi imensamente impactado, devido às restrições impostas e ao fecho das fronteiras. Embora em maio/junho as empresas se tenham habituado a este «novo colega» que é a Covid-19 e retomado atividades, existem mudanças que perduraram até ao dia de hoje. Rossana Veglia adianta que trazer talento do estrangeiro para Portugal, com contratos locais, tem sido uma das mudanças verificadas, pelo que mantém a sua confiança na nova contratação em Portugal.
Roberta Manoccio da NetMove, no Brasil, confessa que o país enfrentou momentos muito difíceis. Com as fronteiras fechadas, o impacto foi estrondoso, e vários projetos foram paralisados no que respeita à transferência de pessoas. A profissional adianta que muitos acharam que as expatriações iriam acabar, devido aos custos de manter um profissional noutro país. Depois da «aventura» que foi o fecho das fronteiras, Roberta Manoccio aponta que verificaram uma pequena retoma dos projetos. Muitos brasileiros voltaram para o Brasil, e as exportações e importações começaram a retomar. E com a esperança que a vacina trouxe, existem projetos que vão ser retomados com uma perspetiva positiva.
Sandrine da Silva da Orange Consulting confessa também que a crise veio mudar muita coisa nas empresas, e também evidenciar o papel dos RH e dos colaboradores. No entanto, alega que na Orange Consulting não se sentiu um impacto abrupto no que diz respeito aos projetos: houve projetos que tiveram de acalmar e datas que tiveram de ser diferidas, porque as empresas não estavam preparadas a nível de tecnologia e não tinham meios, e houve clientes que estavam preparados para avançar. Segundo a profissional, cerca de 30% dos projetos foram abrandados e adiados, mas não cancelados. A nível da empresa e do próprio grupo, Sandrine da Silva adianta que não foram sentidas muitas dificuldades, relativamente, por exemplo, ao trabalho remoto, um regime já implementado na empresa, que não abrange os operacionais que se mantiveram no terreno. No entanto, a profissional confessa que as dificuldades surgiram a nível de coletivos e do acompanhamento dos líderes: como gerir o coletivo foi uma questão que prevaleceu.
ASSINE AQUI A NOSSA NEWSLETTER SEMANAL E RECEBA OS MELHORES ARTIGOS DA SEMANA!
Maria João Escrevente da Unitel em Angola avança no debate, afirmando que em África o trabalho remoto era considerado um regime de difícil implementação. Segundo a profissional, as empresas depararam-se com uma escolha a fazer: o negócio ou as pessoas? Hoje constatamos que as pessoas tomaram e tomam uma importância maior. Na Unitel, cerca de 1500 pessoas passaram a trabalhar em regime remoto, sendo que muitas continuaram no terreno, na manutenção da rede e no front office. Esta divisão, segundo Maria João Escrevente, trouxe algumas preocupações, nomeadamente no que respeita às pessoas da linha da frente, pelo que a empresa avançou com todas as medidas aconselhadas pela OMS. De acordo com esta profissional, o teletrabalho revelou que «as pessoas são o que elas quiserem ser», e que são «mais do que aquilo que conhecem delas próprias», algo que se revelou verdade com a reinvenção de atividades e criação de soluções. Na Unitel, inclusive, preparam-se duas novas vertentes de negócio. Maria João Escrevente acrescenta ainda que foi criada maturidade na gestão, ainda que sem um histórico de gestão de pessoas à distância.
No que respeita à relocation, a profissional acredita que o mundo é cada vez mais redondo e dinâmico, e que é necessário falar mais sobre realocação e conhecimento, e permitir experiências internacionais. Para Maria João Escrevente, o conceito de expatriação vai cair. O essencial é que as pessoas estejam predispostas a aprender noutras geografias, e as condições para que tal aconteça têm de ser criadas. Segundo a profissional, a expatriação tem um lado incorretamente explorado nos ecossistemas, o que cria uma divisão de universos e ambientes difíceis e atípicos. Embora a expatriação seja possível de se fazer em dois ou três anos, no sentido em que é viável transportar conhecimento e abandonar a empresa, quando se cria raízes tem de se criar também cultura e união. A continuidade, segundo esta profissional, acontece quando há proximidade.
Maria João Escrevente acredita que, devido ao custo da relocation, as empresas vão procurar e optar por soluções internas, pelo que a realocação em 2021 vai ser cirúrgica.
O essencial é que a pessoa dê um contributo valioso, de modo a que seja benéfica a contratação do conhecimento. No final da sua intervenção, a profissional reitera que é dentro da lógica da reinvenção que se vão encontrar soluções.
O que veio para ficar a nível de RH e como podem os RH acompanhar as mudanças nas empresas?
Roberta Manoccio é da opinião de que o teletrabalho veio para ficar, mesmo com todas as implicações que acarreta e apesar das dificuldades que algumas empresas sentiram a nível da implementação. Para esta profissional, o ano de 2020 veio descobrir a importância do papel da global mobility nas empresas. O profissional de global mobility revelou-se estratégico de acordo com Roberta Manoccio, que acredita que tanto este olhar diferente perante esse profissional como o teletrabalho vieram para ficar a nível de RH.
Sandrine da Silva acredita que, além do teletrabalho, a flexibilidade é também um conceito que irá perdurar. As empresas encontram-se a refletir sobre os novos locais de trabalho que podem propor aos colaboradores. Espaços de trabalho coworking, mais diversificados e mais abertos, podem responder à flexibilidade.
Para Sabrine da Silva, uma das preocupações do RH passa por saber fazer o acompanhamento dessa flexibilidade de trabalho, assim como o acompanhamento dos líderes e do coletivo. É necessário acompanhar líderes e colaboradores de modo a acompanhar a flexibilidade. Para esta profissional, é crucial reforçar uma cultura empresarial saudável, pois ainda que o bem-estar dos colaboradores seja um tema muito debatido, por vezes o acompanhamento não é feito da melhor forma possível. De forma a manter os colaboradores produtivos e empenhados, a comunicação e a proximidade são, para Sabrine da Silva, igualmente essenciais.
Para Cristina Barros, moderadora deste debate, o teletrabalho está também a ser, em certa medida, prejudicial a nível da saúde mental para os colaboradores. Segundo esta profissional, muitos colaboradores já se encontram «cansados do teletrabalho» e já sentem a falta de se relacionarem diretamente com colegas e chefias.
Rossana Veglia acredita que houve uma mudança profunda relativamente à forma como se vê e como se entende o trabalho, e defende que a flexibilidade vai ser possível em Portugal. Ainda que a linha que separa a vida laboral da vida pessoal se vá esbatendo cada vez mais, Rossana Veglia aponta que os RH farão com que tudo funcione como tem de funcionar. Segundo a profissional, a produtividade deixou de ser medida consoante o número de horas trabalhadas, e todas estas mudanças que estão a acontecer ao mesmo tempo são, de alguma forma, «exciting» (entusiasmantes).
Maria João Escrevente acredita que não é possível haver transformação sem que os RH estejam envolvidos.
As pessoas são um motor fundamental, e este é o momento do RH garantir que assim o é e de dar provas de que assim o é.
De acordo com esta profissional, todos estamos a aprender a viver neste formato e não sabemos bem como, pois a maturidade para gerir tudo isto não existe. É importante que empresas e líderes mantenham em mente que nem todos os colaboradores têm paz e serenidade para trabalhar em casa e para estarem constantemente em casa. «Fala-se muito em empresas felizes, mas nem todos os sítios são felizes», acrescenta a profissional. Por este motivo, cresce a importância de trabalhar a felicidade individual: temos de ter em conta o peso dos negócios e temos de ter em conta o peso do indivíduo também. A conjugação entre maturidade e felicidade é, para Maria João Escrevente, um desafio futuro nos RH.
ASSINE AQUI A NOSSA NEWSLETTER SEMANAL E RECEBA OS MELHORES ARTIGOS DA SEMANA!