A The Summer Berry Company Portugal é uma empresa agrícola produtora de frutos vermelhos, localizada no Almograve, Odemira, e que conta com cerca de 400 colaboradores das mais diferentes culturas e nacionalidades. O InfoRH foi conversar com Beatriz Pimentel, People & Welfare Manager da empresa para conhecer um pouco melhor a sua história.
“A nossa missão é desenvolver colaboradores felizes, cuidar do meio ambiente e fazer crescer as melhores plantas, que darão origem aos pequenos frutos mais nutritivos.”
Como é constituída a vossa equipa? E o departamento de recursos humanos?
A equipa da The Summer Berry Company Portugal é formada por profissionais competentes das mais diferentes áreas profissionais. No campo, as nossas pessoas estão organizadas em grandes equipas ligadas ao setor de colheita, operações culturais, irrigação, manutenção de túneis, tratores e operações mecânicas. Nas vertentes técnicas e de controle de gestão, contamos com engenheiros agrónomos, biólogos, e profissionais da área financeira, de recursos humanos e de saúde e segurança no trabalho. O departamento de recursos humanos é, neste momento, constituído por mim e por mais duas colegas, sendo que contamos ainda com o suporte de uma colaboradora de origem nepalesa, para nos auxiliar nos contatos de recrutamento e atendimento aos trabalhadores migrantes durante a campanha de Primavera (que está ainda a decorrer). Além do corpo técnico e de gestão, temos ainda equipas que prestam serviços que promovem o bem-estar dos nossos colaboradores, serviços que vão desde a cantina até ao transporte de passageiros, entre outros.
Como é que a empresa se adaptou à nova realidade que estamos a passar?
Ainda antes do chegada desta pandemia a Portugal, a equipa de gestão decidiu e implementou um conjunto de medidas, estruturadas no plano de contingência da nossa empresa, sob a coordenação da colega Cristina Sobral, responsável pela área de Saúde, Segurança e Compliance. Neste documento, foram compiladas as diferentes práticas empresariais para minimizar os riscos associados à COVID-19, que incluem a segregação das equipas operacionais, as mais diversas práticas de higiene e de proteção pessoal, a forma de atendimento dos nossos fornecedores e subcontratados, a gestão dos transportes de colaboradores, as práticas do teletrabalho, entre tantas outras. Este documento foi sofrendo revisões sucessivas, mediante atualizações semanais decorrentes da avaliação do estado de risco associado à região e ao país, e com o intuito de preservar ao máximo as medidas de proteção aos colaboradores e ao negócio da The Summer Berry Company Portugal.
Neste contexto atual, como tem realizado a formação e desenvolvimento dos vossos colaboradores?
A formação realiza-se de forma contínua e projeta as nossas pessoas para a possibilidade de desenvolverem carreira connosco. Desde o último trimestre do ano passado, começamos a projetar um modelo de formação de acolhimento para as áreas de recursos humanos & bem-estar, bem como para as áreas de análise de risco, meio ambiente e higiene e segurança alimentar, na modalidade do e-learning. Esta nova modalidade de formação estava a ser pensada em coordenação com o modelo de expansão do negócio e, na altura, foi projetada para iniciar no primeiro trimestre de 2020. Assim, ainda antes da crise trazida pela COVID-19, já tínhamos em prática uma formação que não exigia a reunião de muitas pessoas num mesmo espaço físico, o que foi uma enorme vantagem. Também logo no início do ano, iniciamos uma formação de líderes dentro dos quadros das lideranças intermédias da nossa empresa e, tendo começado o estado de emergência, demos continuidade ao projeto através de videoconferências e com foco nos processos de gestão de crise, pois consideramos ser fundamental dar as ferramentas e os argumentos necessários para que todos pudessem conduzir o trabalho das suas equipas de forma disciplinada e tranquila, garantindo a minimização tanto dos riscos físicos como dos riscos psicossociais associados à pandemia.
Sei que tiveram visitas do Alto Comissariado das Migrações para conhecer as nossas práticas de acolhimento e integração de colaboradores estrangeiros. Que estratégias adotam neste âmbito?
Desde 2018, temos participado ativamente de um conjunto de grupos de trabalho com o intuito de partilharmos as melhores práticas sociais e de podermos também acolher internamente o que de melhor já existe nesta região. A The Summer Berry Company Portugal participa na Comissão Local para a Interculturalidade, um fórum formado por diferentes entidades públicas e privadas para concertar as medidas práticas de implementação do Plano de Integração de Migrantes na região de Odemira. Neste Plano Municipal, associamo-nos a dois grupos de trabalho e temos promovido ações internas e externas, com vários parceiros institucionais nas áreas de saúde, cidadania, desporto e artes.
Também desde 2018, tornámo-nos membros do Consórcio CLAIM Odemira – Centro Local para Apoio à integração de Migrantes, em que participamos financeiramente, mas também de forma activa na manutenção de um centro que serve de suporte, de forma gratuita, a todos os processos de legalização dos migrantes.
Com vista à integração social dos nosso colaboradores, temos desenvolvido também a formação de língua portuguesa, em parceria com o IEFP, pois acreditamos que dominar o idioma local é um passo muito importante para os colaboradores estrangeiros se sentirem plenamente integrados na comunidade. A visita do Alto Comissariado ocorreu no final do ano passado, com o objetivo de conhecer as nossas práticas de integração e de acolhimento, bem como as estruturas de habitação temporária da nossa quinta e as demais áreas de suporte aos colaboradores. De facto, temos uma política de porta aberta a todos aqueles que nos queiram visitar, sendo que agora, e de forma temporária, estamos mais contidos, por conta das atuais necessidades de confinamento. De todo o modo, preservamos o princípio de comunicação com as entidades que nos procuram e divulgamos o nosso trabalho, com vista a contribuir socialmente para a construção de um modelo positivo e demonstrando que sim, é possível trabalhar em sintonia com pessoas das mais diferentes culturas.
Evidencie-nos uma prática de RH que para si seja diferenciadora.
Acredito que o facto de termos uma unidade de negócio que coexiste com um espaço habitacional, é uma realidade ainda rara no nosso país. Tendo em conta as restrições do território, a falta de transportes públicos na região e a carência brutal de espaços habitacionais na componente de arrendamento, esta foi uma solução que trouxemos do exemplo das quintas agrícolas de Inglaterra e de outros países do norte da Europa, e que tem feito a diferença na qualidade de vida dos nossos colaboradores. Na The Summer Berry Company Portugal, um dos valores primários é o valor família e, nessa perspetiva, a equipe de recursos humanos & bem-estar faz um trabalho de apoio não apenas às questões laborais, mas a todas as dimensões que abrangem as necessidades da pessoa que connosco trabalha e que a nós recorre para superar cada um dos desafios necessários à plena integração social e cívica.
Têm diversas iniciativas de cariz solidário e fazem o possível para ajudar a comunidade. Que estratégias adota para implementar o voluntariado corporativo?
Acredito que a solidariedade deve começar com o mapeamento das necessidades da região e com a definição de parceiros de alto impacto social, potenciando assim sinergias corporativas e sociais.
Neste sentido, temos parcerias, por exemplo, para a doação de fruta a várias entidades públicas e IPSS (caso da Associação de Paralisia Cerebral de Odemira e da Santa Casa da Misericórdia de Odemira). Desde o início da pandemia, fizemos também doações para hospitais, centros de saúde e lares de idosos dos concelhos de Odemira, Sines e Santiago do Cacém. Paralelamente, apoiamos o Colégio Nossa Nossa Senhora das Graças em Vila Nova de Milfontes, através da oferta de computadores para os alunos mais carenciados poderem aceder à escola de forma digital. Temos ainda contribuído de forma regular com os Bombeiros Voluntários de Odemira, através da doação de equipamentos de proteção individual e donativos para a aquisição de material específico para as ambulâncias.
Recentemente, e em colaboração com outra empresa agrícola da região, leccionámos, de forma voluntária, uma formação sobre atendimento e inteligência emocional, dirigida a órgãos públicos e a entidades com grande impacto social, com vista a contribuir para a potencialização de ferramentas de atendimento a todos aqueles que lidam diariamente com as dificuldades de comunicação de cidadãos que não dominam a língua portuguesa e que, por isso, precisam de soluções práticas para o seu dia-a-dia. O nosso voluntariado corporativo (ainda que temporariamente em stand by, devido à atual conjuntura) inclui ainda a participação de colaboradores nossos no apoio à organização de importantes eventos e iniciativas locais.
Na sua opinião, que desafios terá pela frente com este novo mercado laboral?
Na minha opinião, e esta é muito particular, quem trabalha em recursos humanos, deve necessariamente ter foco em soluções e não em problemas. A realidade do nosso quotidiano está continuamente a mudar e o grande desafio é a adaptação à mudança. Os negócios não podem parar, mas a economia deve reiventar-se, tendo em conta as restrições atuais. A verdade é que o setor agro-alimentar é um setor produtor de bens essenciais, não podendo, como tal, parar e a verdade é que nunca parou durante todos estes meses de grandes dificuldades e de constante aprendizagem.
Quem trabalha em recursos humanos, deve necessariamente ter foco em soluções e não em problemas.
As medidas laborais aplicadas neste novo cenário criarão certamente novos mecanismos e novas possibilidades para o futuro que aí vem. Sofrer por antecipação não é uma opção, portanto, escolhemos um caminho disciplinado, precavido e resiliente perante as dificuldades que se avizinham. Os desafios são sempre particulares e transitórios. A transformação digital de muitos processos de recursos humanos será também um novo caminho a percorrer.