O GRACE – Empresas Responsáveis lançou o toolkit para empresas «Como recrutar e integrar pessoas com deficiência», que conta com o apoio da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML). A RHmagazine acompanhou a sessão de apresentação do projeto e conta-lhe tudo sobre esta iniciativa e ferramenta.
O evento contou com a abertura de Sérgio Cintra, Administrador Executivo da SCML, e com a partilha de boas práticas de algumas empresas associadas do GRACE. Posteriormente, Nathalie Ballan, membro da direção do GRACE, esteve à conversa com Susana Correia Campos do Associado Jerónimo Martins.
Sérgio Cintra, Administrador Executivo da SCML, começa por reforçar a importância desta ferramenta e desta iniciativa na comunidade portuguesa: «É aqui que temos que focar o nosso trabalho. Combater o preconceito e a discriminação. Promover a igualdade de oportunidades. Valorizar as competências e talentos das pessoas com deficiência. Se queremos ser parte integrante da solução e deixar às gerações vindouras uma sociedade justa, aberta e inclusiva, então temos obrigatoriamente de reconhecer e promover os direitos das pessoas com deficiência, que representam cerca de 15% da população mundial.»
Já Margarida Couto, presidente do GRACE – Empresas Responsáveis, em representação da Vieira de Almeida & Associados, refere: «Apesar de muitos e bons exemplos de diversas empresas a operar em Portugal, e da existência de legislação laboral em vigor na área da deficiência (a chamada “Lei das Quotas”), segundo dados recentes, apenas 11% das pessoas com deficiência desempregadas registadas no IEFP encontraram uma colocação, o que nos deve preocupar a todos. Ao tecido empresarial cabe um papel incontornável na inversão desta situação, gerando emprego inclusivo.»
Nesta sessão de apresentação do projeto, que decorreu online no dia 26 de janeiro, Nathalie Ballan relembra que, em Portugal, cerca de 65% das pessoas com deficiência não trabalham, o que se traduz num desperdício de talento que pode ser evitado através da promoção da integração. Para tal, torna-se imprescindível não só fomentar a empregabilidade, seja dentro das empresas ou financiando formação, como também recrutar e desenvolver talentos.
Este instrumento pretende inspirar e incentivar a construção de programas de emprego inclusivo eficazes, com resultados sustentáveis.
Para ajudar as empresas a desenvolver processos de recrutamento mais inclusivos, foram ajustadas algumas medidas e algumas etapas do processo. Segundo refere Nathalie Ballan, estes ajustes surgem de várias conversas, tanto com pessoas com deficiências, como com organizações e direções de RH. O objetivo foi revisitar as práticas individualizadas e retirar conclusões, por forma a compilar experiências e reconstruir os processos de um modo estruturado.
Ao longo da sessão de apresentação, várias foram as empresas que, através de vídeo, falaram sobre os seus processos inclusivos e sobre os benefícios de dar oportunidades a talentos que, neste momento, se encontram muitas vezes esquecidos.
Nos vídeos, ouviram-se também os testemunhos de pessoas com deficiência: todas elas, e independentemente das funções, mostravam o seu agradecimento pela oportunidade. «Eu gosto muito do que faço», «Eu só quero poder trabalhar» e «Eu gosto de trabalhar» foram algumas das palavras ouvidas.
O grande objetivo deste projeto avançado pelo GRACE é ajudar as pessoas com deficiência a encontrar um caminho de inclusão e de empregabilidade, e ajudar as empresas a desenvolver processos que tornem esse caminho possível.
Susana Correia Campos, em conversa com Nathalie Ballan, começa por adiantar que este tema já se encontra no ADN da Jerónimo Martins. A preocupação da organização, segundo Susana Campos, sempre recaiu sobre os que têm menos oportunidades, com consciência das ações que, enquanto empregadores, podem ser tomadas junto dessas comunidades. A responsável relembra: se houvesse uma distribuição justa de oportunidades, todos os empregadores contratavam pessoas com deficiências. É o papel do empregador abraçar a diversidade e as pessoas, independentemente das suas limitações. Susana Campos confessa: «Este é um caminho que se faz andando e estamos sempre a aprender.»
A primeira prática aconselhada por esta profissional passa pela associação das empresas a entidades especialistas nestas temáticas: «Não conseguimos trabalhar sozinhos, temos de nos aliar a quem sabe deste tema.» A segunda prática passa pelo modelo de tutoria. A responsável adianta: «Não há integração sem adaptação, sem criar experiências que sejam facilitadoras do desenvolvimento do talento do candidato». É essencial que as empresas trabalhem os programas de formação, e que contem com um tutor. Na Jerónimo Martins, o tutor alia o conhecimento técnico à formação na prática, no local de trabalho, e predispõe-se a apoiar o desenvolvimento da pessoa e a dar-lhe o reforço motivacional necessário. «É preciso que a pessoa mantenha a resiliência e a força», conclui a responsável.
Para Susana Campos, uma empresa inclusiva acredita que não há pessoas com deficiências; isto é, não há pessoas com falta de capacidades. Há, sim, pessoas com falta de oportunidades.
Por isso, uma empresa que quer intervir nas comunidades onde está presente tem de criar estas oportunidades e tem de o fazer com a consciência de que o trabalho é o maior fator de inclusão para combater a pobreza e a exclusão social que existem atualmente. No fundo, trata-se de dar a estas pessoas a oportunidade de serem verdadeiros cidadãos na sociedade. Para esta responsável, um empregador inclusivo olha sem mitos, sem preconceitos e de uma forma equitativa para o talento, e, na dúvida, dá a oportunidade. Susana Campos deixa esse apelo: «Na dúvida, deem a oportunidade. Somos muitas vezes surpreendidos com os efeitos positivos da integração de pessoas com deficiência nas empresas.»
O toolkit «Como recrutar e integrar pessoas com deficiência» é um manual passo a passo, com casos práticos e testemunhos de empresas como a Auchan, CUF, El Corte Inglês, Jerónimo Martins, Lipor, Prio, Repsol e Santander. Dividido por fases, o toolkit aborda desde a preparação da ação, passando pelo recrutamento e seleção, o momento de acolhimento e integração, até à fase do estabelecimento de relações duradouras. Ao longo do manual, que é focado nas ações que as organizações devem tomar, é também reforçada a importância de as empresas trabalharem com as entidades especializadas no tema.
É ainda destacada a importância de sensibilizar os colaboradores: falar abertamente da deficiência e da igualdade é crucial para desenvolver um ambiente de inclusão. Nathalie Ballan conclui: «Quando tocamos um colaborador, tocamos um cidadão.»
A publicação está disponível para consulta no site do GRACE e da SCML.
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