Desde a implantação das suas lojas em Portugal, o El Corte Inglés tem vindo a contribuir para a criação de um mercado de trabalho inclusivo, movido por preocupações de ordem social.
Em outubro deste ano, a empresa viu renovado o selo «Marca Entidade Empregadora Inclusiva». Em entrevista Susana Silva, diretora de pessoas da organização no nosso país, explica as práticas que valeram novamente a distinção.
Que práticas e políticas valeram a renovação do selo «Marca Entidade Empregadora Inclusiva»?
Desde a implantação das suas lojas em Portugal, a empresa tem vindo a contribuir para a criação de um mercado de trabalho inclusivo, movida por preocupações de ordem social. Para além da integração de pessoas com deficiência e incapacidade, a empresa tem procurado valorizar o seu contributo como profissionais de forma reiterada e consistente. O reconhecimento destas práticas voltou a ser distinguido este ano, com a renovação do selo da “Marca Entidade Empregadora Inclusiva”, o que nos deixou profundamente gratos e orgulhosos.
Quais são as vossas principais práticas de promoção da inclusão?
Práticas de gestão inclusiva
No domínio da responsabilidade social e da igualdade de oportunidades, durante os últimos dois anos a empresa esteve envolvida em mais de 70 projectos na comunidade, visando de algum modo o desenvolvimento da inclusão activa de pessoas com deficiência e incapacidade. Estes projectos de parceria culminaram na contratação efectiva de 27 pessoas.
Para além destes, várias pessoas com deficiência e incapacidade têm beneficiado de estágios profissionais, estágios curriculares ou de formação prática em contexto laboral na empresa. Também aquando da necessidade de recrutar trabalhadores para campanhas como é o caso da época de Natal e da tarefa de realizar embrulhos, a empresa tem recorrido à contratação de pessoas com deficiência.
Ao nível das actividades ocupacionais, o El Corte Inglés estabeleceu nos últimos dois anos, seis protocolos com organizações parceiras cujos utentes realizaram actividades socialmente úteis na empresa.
Actualmente, dos mais de 3000 trabalhadores que a empresa detém em Portugal, cerca de 60 possuem algum grau de deficiência ou incapacidade.
Manutenção do emprego
Sempre que um trabalhador adquire deficiência ou incapacidade no decurso da sua vida profissional, e tendo como objectivo a sua manutenção no emprego e o exercício de uma actividade profissional, a empresa promove o ajustamento entre a sua funcionalidade e o contexto de trabalho. Os serviços de medicina do trabalho definem recomendações sobre as tarefas que o trabalhador pode e não pode realizar, e bem assim as limitações das mesmas. Define recomendações e ajustamentos ao nível de EPI’s ou outras necessidades concretas do trabalhador que podem pressupor a reorganização das funções, e adaptação dos postos, ou dos horários de trabalho do trabalhador, a formação e informação, etc, tendo em vista a sua reintegração.
Acessibilidade física
Várias condições de acessibilidade ao nível das instalações e equipamentos, foram ajustadas de modo a viabilizar a inclusão e a diversidade funcional. São exemplos, a adaptação profunda de farda pela baixa estatura de utilizadores, no caso de nanismo; a selecção de uma mesa de trabalho com computador pessoal num local acessível para trabalhador em cadeira de rodas; a disposição de mesa de trabalho com PC em zona relativamente próxima de outros trabalhadores mas disponibilizada sala para momentos em que necessitasse permanecer sozinho, para estagiário com autismo; facilitado o acesso à empresa e local e trabalho com estacionamento gratuito em zona de clientes – absolutamente excepcional, para um colaborador que apresenta limitações físicas; realizada melhoria no suporte elevatório/banco na linha de caixa, após uma operadora se ter queixado de dores nas costas.
Acessibilidade à informação
A empresa tem adoptado práticas de comunicação inclusivas, ajustando os conteúdos, as formas e os canais de comunicação, de modo a assegurar igualdade e não discriminação na comunicação e no acesso à informação. Exemplos são, a presença de intérprete de LGP nas entrevistas de selecção, em acções de formação e no momento formal de assinatura de contrato de trabalho; apoio de corporação de Bombeiros no transporte e na mobilidade de pessoa em cadeira de rodas; na deficiência intelectual, a presença de um técnico da instituição agiliza a comunicação entre a pessoa com deficiência e a empresa.
Equipamentos de utilização universal
As práticas de serviço inclusivas estendem-se à prestação de serviços a todos os que delas precisam, independentemente da sua diversidade funcional. Para além das definidas por lei, as soluções que possuímos para pessoas de mobilidade reduzida nas nossas instalações nas lojas e serviços consistem em: existência de escadas que possuem uma plataforma de acesso ao piso superior e elevadores; existência de rampas em todos os acessos do exterior em relação à rua; possibilidade de os clientes invisuais disporem de acompanhamento e ajuda técnica; sinalética em braille nos elevadores, elevadores triplex e panorâmico, nos botões; disponibilizada cadeira de rodas sempre que solicitada pelos clientes.
Qual está a ser o impacto da criação de um ambiente mais inclusivo para a empresa?
A integração de pessoas com deficiência e incapacidade nas nossas equipas de trabalho, e a oportunidade de vivências em ambiente inclusivo, tem levado ao desenvolvimento das competências pessoais e profissionais, tais como melhoria no estabelecimento de relações sociais, a iniciativa e criatividade, ou o compromisso por parte dos colaboradores em várias áreas e centros de trabalho.
Por outro lado, a integração de pessoas com deficiência tem revelado que muitas delas, ante a vontade de se superarem, acabam por ser mais produtivas, pró-activas e dinâmicas, tornando-se bons exemplos e fontes de inspiração para os outros elementos das equipas de trabalho.
A existência das políticas e práticas de diversidade e inclusão tem vindo a melhorar a imagem da empresa na comunidade, mas também a percepção que os colaboradores possuem da empresa, elevando os níveis de participação activa e positiva. A oportunidade de interagir com colegas com deficiência tem possibilitado a participação dos colaboradores em acções específicas de formação e sensibilização, abre novos canais de discussão e fomenta o pensar as questões ligadas ao exercício da cidadania. As limitações da pessoa com deficiência e a capacidade na sua superação – percepcionadas pelos colaboradores sem deficiência – conduz a uma relativização dos problemas destes, abrindo caminho para atitudes mais positivas. Noutros casos, a presença de pessoas com deficiência nas equipas de trabalho faz com que a visão colectiva e do todo ganhe preponderância face a uma visão mais individualista.
A época natalícia é certamente um dos períodos de maior afluência do El Corte Inglés. Como gerem esta altura de maior afluência ao nível dos recursos humanos?
A experiência que adquirimos nestes últimos anos ajuda-nos a preparar com a antecedência necessária este pico de trabalho. Iniciamos em setembro a campanha de contratação de reforços de Natal e, durante esse período, contratamos e formamos mais de 600 pessoas para todas as áreas da empresa (venda, supermercado, restauração e serviços). Nesta altura também reforçamos a equipa de RH na área da atracção de talento, formação e gestão de pessoas.
Em que consiste a iniciativa Árvore dos Desejos, que estão a levar a cabo este ano nas vossas lojas?
Desafiamos as nossas equipas a pedirem um desejo neste Natal, poderia ser para o próprio, para outra pessoa ou para o coletivo de empresa. Foi uma auscultação de medidas que pudessem contribuir para que as nossas pessoas fossem mais felizes. E, mais importante, tentar concretizar muitos desses desejos (uns antes do Natal e outros durante o próximo ano).
Criaram, em novembro, uma nova área de Educação & Desenvolvimento, onde se insere o programa “QUALIFICA”, ao abrigo do qual se encontram em formação mais de uma centena de colaboradores a concluir os níveis do ensino básico e secundário. Como surgiu esta área e quais os objetivos?
A empresa sempre apostou na Formação e Desenvolvimento dos nossos colaboradores, mas achámos que tínhamos de ir mais além. Mais do que apostar no desenvolvimento de competências para desempenhar uma dita função, considerámos que deveríamos olhar para a educação das nossas pessoas mais para uma vertente pessoal, onde possam desenvolver habilidades colaborativas, desenvolvam sentido critico, iniciativa e criatividade e desenvolvam atitudes de curiosidade e busca. Queremos que todos tenham a oportunidade de desenvolver o seu potencial.
O programa QUALIFICA, no qual se encontram em processo mais de uma centena de colaboradores a concluir os níveis do ensino Básico e Secundário, é complementado por um plano ambicioso de unidades de formação cujos conteúdos são de ordem transversal e do interesse pessoal dos próprios colaboradores. Cada pessoa pode escolher fazer formação em idiomas, informática e outros conteúdos transversais como ambiente e sustentabilidade, saúde, inclusão e diversidade.