Investimento no ensino experimental, individual e na capacitação dos colaboradores são os melhores caminhos para diminuir a disparidade entre competências, revela o mais recente estudo da Accenture.
De acordo com o mais recente estudo da Accenture, o potencial económico das tecnologias digitais está a ser colocado em risco por sistemas inadequados de educação e formação no trabalho. A disparidade de competências pode levar a uma penalização de 11,5 biliões de dólares no PIB em 14 economias do G20, avança a consultora.
O relatório It’s Learning. Just Not As We Know It, publicado em colaboração com a G20 Young Entrepreneurs’ Alliance (G20 YEA), inclui uma análise que permite às organizações avaliarem a sua futura força de trabalho e prepararem estratégias de qualificação dos profissionais. Segundo os dados do estudo, em média, nas 14 economias analisadas, 51% do tempo laboral está sujeito a um potencial aumento à medida que as tecnologias inteligentes melhoram as competências dos colaboradores. A Accenture avança que 38% desse tempo podia ser automatizado. No entanto, “o impacto varia entre os cargos e os mercados geográficos, verificando-se a necessidade de intervenções direcionadas para a aceleração das oportunidades e gestão dos riscos”.
Nos EUA, por exemplo, “os trabalhadores com funções ligadas à empatia e ao apoio, como os enfermeiros, representam a maior parcela individual de emprego e têm as maiores oportunidades de reforçar a produtividade”, adianta a consultora. Os resultados do relatório indicam que 64% do seu tempo laboral pode ser aumentado e 14% deste incremento poderá ocorrer nos próximos dez anos. Investimentos adequados na capacitação podem satisfazer a procura de até 1,4 milhões de trabalhadores adicionais nessas funções durante a próxima década, informa a Accenture.
“Independentemente de as novas tecnologias aumentarem ou automatizarem o trabalho, a aposta na qualificação é uma prioridade urgente. No entanto, os líderes empresariais devem avaliar como é que a tecnologia poderá reconfigurar as metodologias de trabalho nos seus setores e o conjunto de competências que será exigido aos seus colaboradores para esta reconfiguração”, afirma José Gonçalves, presidente da Accenture Portugal, em comunicado.
A crescente importância de novas competências
De acordo com o estudo, “o raciocínio complexo, a criatividade, a inteligência sócioemocional e a perceção sensorial são aptidões que têm vindo a ganhar importância em quase todas as funções”. Prevê-se que, com a adoção destas tecnologias inteligentes, tais competências ganhem mais relevância.
Segundo José Gonçalves, “grande parte das abordagens de ensino utilizadas atualmente já não se adequam aos dias de hoje, quanto mais ao futuro”. “A neurociência e ciências comportamentais mostram-nos que há melhores formas de aprender. Muitas das competências com maior importância no trabalho do futuro são melhor adquiridas através da experiência prática. Precisamos de uma revisão das abordagens de qualificação que coloque as técnicas de aprendizagem experiencial em primeiro plano”, alerta.
Considerando os resultados obtidos no relatório It’s Learning. Just Not As We Know It, a Accenture apresenta “uma abordagem tripla para resolver a crise de competências no trabalho”, baseada na aceleração da aprendizagem experimental, na mudança de foco das instituições para os indivíduos e na capacitação dos colaboradores. A aprendizagem experimental requer a “implementação de uma variedade de técnicas, desde o design thinking às ferramentas de simulação para funções mais técnicas, de iniciativas de treino no trabalho a esquemas de aprendizagem”. A consultora aconselha a que, nas escolas, sejam proporcionadas “atividades de aprendizagem baseadas em projetos de aprendizagem em equipa, a aplicação de novas tecnologias, como a realidade virtual e a inteligência artificial”, para “tornar a aprendizagem mais imersiva, envolvente e personalizada”.
A formação deve ser concebida tendo em consideração o profissional. De acordo com a Accenture, “os objetivos de formação e educação devem incentivar cada indivíduo a desenvolver uma combinação mais ampla de competências, em vez de apenas produzir um determinado número de formandos em cursos específicos.
A consultora defende uma “intervenção direcionada” capaz de orientar os profissionais “mais velhos, menos qualificados e que desempenham funções de trabalho manual e físico” e que, por isso, têm menos acesso a formação. “Os cursos devem ser mais modulares e flexíveis para que se adaptem facilmente aos novos compromissos. Os modelos de financiamento devem incentivar uma aprendizagem ao longo da vida, através de subsídios de apoio aos planos de formação pessoal”, conclui a Accenture, que usou um método de análise estatística de cluster para avaliar as competências, habilidades e atividades de trabalho.