Pedro Ramos deixa de exercer o cargo de Diretor de Recursos Humanos do Grupo TAP e deixa comunicado à Comunidade RH.
AS EMPRESAS ESCOLHEM AS PESSOAS, MAS… AS PESSOAS TAMBÉM ESCOLHEM AS EMPRESAS!
Conforme notícias que têm sido veículas nos últimos dias, confirmo que, após um período de reflexão e muita ponderação, cheguei a acordo com a TAP sobre a minha saída da empresa e, com isso, deixei de exercer o Cargo de Diretor de Recursos Humanos do Grupo TAP.
Foram praticamente quatro anos ao serviço de uma Companhia que vivenciou os maiores desafios, muitas vezes em sentidos opostos – ora um profundo crescimento com as necessárias respostas emergentes de aquisição de talento e integração acelerados do mesmo ora um processo de profunda regressão, reorganização e restruturação com a conceção e implementação do maior desafio de todos os tempos em Portugal, no que respeita à otimização e restruturação da força de trabalho.
Nestes últimos meses (já mais de 1 ano!), com a gestão dos processos de Gestão de Pessoas “em emergência”, fruto de uma pandemia, num dos setores mais afetados e de grande dimensão, empreendi e coordenei com verdadeiro “espírito de missão” os processos de implementação de lay-off e redução salarial, bem como os processos de gestão da aplicação de medidas de reestruturação e implementação das medidas de redução da força de trabalho e adequação das várias equipas nas várias geografias onde a companhia está presente.
Durante estes últimos tempos, apesar da minha própria redução salarial significativa, do profundo aumento da minha carga de trabalho e envolvimento pessoal, e de nem um único dia durante a pandemia ter podido confinar, associado aos elevadíssimos níveis de stress a que estava sujeito, nem um minuto hesitei que essa era efetivamente a minha missão enquanto DRH, num contexto de enorme turbulência e, sem qualquer comparação com qualquer outra realidade ou contexto passados.
Nesse sentido, apesar de um amigo ter caracterizado estes meus tempos como tendo o “pior emprego do mundo à época”, sempre estive com o maior profissionalismo, competência, envolvimento e, sobretudo, muita dedicação ao serviço da minha empresa e, bem assim, com um foco nas Pessoas e nas melhores práticas de poder comunicar com verdade, envolver e cuidar, em cada momento, mesmo nos processos de saída, para que fossem efetuados com a dignidade, respeito e empatia, dando, em cada momento, o exemplo e o envolvimento pessoal apesar da dimensão do processo.
Porém, um episódio, que foi amplamente difundido pelos meios de comunicação social e fortemente aproveitado pelas redes sociais, veio, de repente, pôr em causa os mais de 25 anos que tenho ao serviço da Gestão de Pessoas e, em especial, os terríveis, desgastantes e longos meses na gestão de uma situação em contexto de emergência nunca antes vivido. O “vídeo polémico da Plaza Mayor”, conforme apelidado pela comunicação social (e sobre o qual nunca me pude pronunciar, para proteção da minha empresa e porque estava em “processo de inquérito” !! entretanto arquivado) não foi mais do que um vídeo privado, gravado num contexto informal e, apenas, destinado a um grupo muito restrito de pessoas. De repente, o conteúdo inócuo, inofensivo, sem qualquer intenção de denegrir, “gozar”, ou até revelar algum tipo de informação que não fosse já conhecida (evidentemente, no seu contexto próprio), foi utilizado de forma descontextualizada pondo-me em evidência. Mais, a utilização inadequada, descontextualizada, desvirtuada e completamente desproporcional do conteúdo – e que, infelizmente, a minha empresa permitiu – veio transformar um “não tema” num assunto de impacto colossal sobre o qual, alguém me disse durante este processo, ficou em evidência que “a minha situação foi gerida pela TAP e pelos diversos interlocutores como se vivêssemos todos numa rede social e não em empresas profissionais”.
Obviamente, só quem não conhece o meu percurso, o meu trabalho e a minha forma de ser e de estar poderia percecionar o conteúdo do tal vídeo como algum desrespeito por quem quer que seja, muito menos pelos profissionais da TAP, a quem servi e dediquei (sem arrependimentos) boa parte da minha energia e da minha positividade.
Volvidos quase dois meses sobre este episódio, e sobretudo pela forma como as minhas lideranças trataram e geriram todo este processo, perdoem-me (bem sei que é pura “deformação profissional”), não posso deixar de dizer que, extrapolando, muito para além do meu caso concreto, este é um tema verdadeiramente de RH sobre o qual todos os líderes de Pessoas deverão refletir seriamente…
As empresas habitualmente preocupam-se com os processos de aquisição e, sobretudo, de retenção de talentos… Ou seja, as empresas ESCOLHEM AS PESSOAS de que precisam pelas suas competências, pela sua atitude, entre outros fatores… Mas, cada vez mais, as empresas devem preocupar-se com o facto desse processo estar claramente em inversão. Hoje, são cada vez mais as PESSOAS QUE ESCOLHEM AS EMPRESAS onde querem estar, com que se identificam, com quem querem partilhar o seus valores e sobretudo o seu Propósito.
Vários são os estudos que apontam como principais fatores para as Pessoas saírem das empresas o facto de desacreditarem e desistirem, sobretudo, os relacionados com as lideranças tóxicas – pouco competentes e inseguras, com medos e receios de que os liderados possam saber mais ou melhor de determinados temas, que não sabem a importância da palavra “confiança” e que são geradoras de ambientes de trabalho que estimulam a desconfiança, o stress negativo, a desorientação e onde o célebre “foco nas pessoas” não passa de um discurso bonito mas completamente contrariado pela prática e pelo (não) exemplo, deixando claramente as suas Pessoas à (sua) sorte.
Muito teremos nós, Gestores de Pessoas, de refletir e de ajudar a implementar uma cultura de “liderança cuidadora”, preocupada verdadeiramente com as Pessoas, os seus sentimentos, os seus propósitos de vida, os seus desafios alinhados com a estratégia do negócio.
Mas, voltando à minha história pessoal com a TAP (sem mais delongas), a gestão da TAP demonstrou que não precisa mais do meu envolvimento enquanto Gestor das (suas) Pessoas, e eu assumo publicamente que deixei de escolher a atual TAP para poder empreender e fazer crescer e concretizar o meu Propósito!
Trata-se, portanto, tal como nas relações pessoais, de um “divórcio” por mútuo consentimento e acordo e onde cada parte pode e deve ESCOLHER o seu caminho.
Para os excelentes profissionais que a nossa “companhia de bandeira” tem ao seu serviço deixo, porém, uma sincera expressão de
Boa sorte!
Pedro Ramos