Hoje, trazemos-lhe mais um grupo de conclusões do “Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal”. Desta feita, o foco assenta no impacto da pandemia de COVID-19 no mercado de trabalho. Vejamos quais as gerações e ciclos de estudos mais afetados e as tendências dos empregadores na procura por competências.
As regras de contenção como resposta à COVID-19 e a própria reação do mercado de trabalho tiveram implicações significativas para a aquisição e o reforço das competências dos portugueses – implicações essas que se estenderam a diferentes fases do ciclo de vida: crianças no pré-escolar, crianças em idade escolar, adolescentes, conclusão de ciclos educativos, transição para o ensino pós-secundário, transição para o mercado de trabalho para os que terminam ciclos educativos e participação na aprendizagem ao longo da vida.
Segundo um estudo da OCDE, mencionado no relatório da Fundação José Neves (FJN), as perdas de aprendizagem teóricas associam-se ao rendimento individual e ao crescimento económico dos países. Perdas de aprendizagens equivalentes a um terço de um ano letivo, resultam numa diminuição de rendimentos ao longo da vida na ordem dos 2,6% e num crescimento económico até ao fim do século 1,5% menor.
Perdas de aprendizagens equivalentes a um terço de um ano letivo, resultam numa diminuição de rendimentos ao longo da vida na ordem dos 2,6% (OCDE)
A crise sanitária teve efeitos na entrada para o mercado de trabalho, principalmente entre os mais jovens. Em 2020, apenas 72,8% dos jovens entre os 20 e os 34 anos que tinham completado um nível de escolaridade nos últimos três anos, estavam empregados, uma queda acentuada que veio interromper a tendência positiva que se vinha a verificar desde 2012. Em 2021, já se verificou uma ligeira recuperação para os 74,2%.
A proporção de recém-diplomados inscritos como desempregados no IEFP também aumentou em 2020. Comparando com 2019, a propensão ao desemprego dos recém-diplomados de cursos de licenciatura aumentou em 2020 em cerca de 1,6 pontos percentuais – de 3,7% em 2019 para 5,3% em 2020 – , um crescimento que inverteu a tendência de desemprego decrescente que se vinha a verificar desde 2014. Considerando a área formativa, o aumento mais expressivo da propensão ao desemprego sentiu-se entre os diplomados de “Serviços pessoais” – de 3,8% em 2019 para 8,9% em 2020. Por sua vez, o efeito foi menos expressivo na área de “Saúde“.
Em 2020, apenas 72,8% dos jovens entre os 20 e os 34 anos que tinham completado um nível de escolaridade nos últimos três anos, estavam empregados
Como se pode ler no relatório do “Estado da Nação”, “estes dados apontam para uma ausência de retorno das competências recentemente desenvolvidas nos ciclos de estudo e são preocupantes, tendo em conta a larga evidência que aponta para a existência de efeitos negativos nas carreiras profissionais no longo prazo para as gerações que entram no mercado de trabalho num período recessivo”.
Mais qualificados são os que mais participam em formação ao longo da vida
Um dos aspetos positivos retirados do contexto pandémico foi o aumento da participação de adultos em educação e formação que se verificou em 2021. Neste ano, a taxa de participação aumentou de forma significativa para 12,9% (acima dos 10,5% de 2019). A desagregação por nível de escolaridade revela que a taxa de participação para o grupo dos adultos menos escolarizados permaneceu no mesmo valor que 2019 e que o aumento foi mais significativo para os adultos com ensino superior.
Sobre este dado, já Carlos Oliveira, Presidente Executivo da Fundação José Neves (FJN), havia referido em entrevista à RHmagazine:
“As pessoas mais qualificadas já perceberam as vantagens da Educação e, portanto, é-lhes mais fácil perceber porque é que têm de continuar a desenvolver competências ao longo da vida. Já as pessoas com menores qualificações não têm esta perceção, porque já passaram por essa realidade há muito tempo, acham que não vão ter nenhuma vantagem ou que a formação é para aqueles que já estudaram muito”.
“Muitas vezes, o problema também é as pessoas associarem a formação ao longo da vida a terem de ir para os bancos da escola e não é necessariamente isso; poderá ser uma formação profissional ou menos formal, como os bootcamps ou os programas de curta duração – que muito defendemos – orientados para as competências”, defende ainda.
Desemprego afetou sobretudo os mais jovens
Na generalidade, a manutenção do emprego permaneceu em níveis relativamente elevados e de uma quase total recuperação do volume de emprego em 2021. O número total de pessoas empregadas nos três últimos trimestres de 2021 foi já significativamente superior ao dos mesmos trimestres de 2019: cerca de mais 33.000 no 2.º trimestre, 56.000 no 3.º trimestre e 89.000 no 4.º trimestre. Como se pode ver na imagem abaixo, o diagnóstico é, no entanto, diferente para os mais jovens e o período associado ao início das suas carreiras profissionais. Os níveis de emprego daqueles com idades entre os 25 e os 34 anos sofreram um forte abalo nos dois momentos de confinamento, um atraso ainda não recuperado.
A desproporção do impacto entre jovens e a generalidade da população é igualmente visível em termos da variação da taxa de desemprego. No final de 2021, se é verdade que as taxas de desemprego da população em idade ativa eram já significativamente inferiores às do início de 2019, o mesmo não se verificava no caso dos jovens. Nessa altura, a taxa de desemprego deste segmento situava-se perto dos 9% (o que representava cerca de mais de 3.000 e 12.500 jovens em situação de desemprego face ao trimestre homólogo de 2019 e 2018, respetivamente.)
A probabilidade de estar empregado por nível de educação aumentou para os indivíduos com ensino superior, mas baixou para os indivíduos com ensino secundário completo. A probabilidade média de estar empregado para um indivíduo com ensino secundário foi, em 2021, de 85% (1,8 pontos percentuais abaixo do valor médio de 2019). Já para os indivíduos com licenciatura e mestrado essa probabilidade era, respetivamente, cerca de 90% e 95%. “É evidente que níveis superiores de escolaridade protegeram de forma determinante a queda da probabilidade de estar empregado. (…) Assim, a pandemia reforçou o prémio de empregabilidade associado a mais educação e de forma particular para os detentores de mestrado”, lê-se no relatório.
No final de 2021, havia mais de 3.000 e 12.500 jovens em situação de desemprego face ao trimestre homólogo de 2019 e 2018, respetivamente
O impacto positivo da digitalização no emprego
A variação do emprego entre os últimos trimestres de 2019 e 2021 nas diferentes profissões está associada, de forma positiva, ao seu grau de digitalização, medido pela proporção de requisitos digitais nas ofertas de emprego. Os dados refletem, fundamentalmente, a proteção dos empregos técnicos associados às tecnologias de informação e comunicação e de apoio administrativo, relativamente digitalizados.
Em 2021, 87% das ofertas de emprego pediram pelo menos uma competência técnica, 82% pelo menos uma competência transversal e 63% pelo menos uma competência digital. O aumento de procura de competências mais expressivo, de 12 pontos percentuais, diz respeito às competências digitais que aumentaram de 54% em 2019 para 66% em 2020.
Para além das competências digitais, a 2.ª edição do “Estado da Nação” destaca a evolução da procura de capacidades como: trabalho em equipa, pensamento criativo e adaptação à mudança.
Siga-nos no LinkedIn, Facebook, Instagram e Twitter e assine aqui a nossa newsletter para receber as mais recentes notícias do setor a cada semana!