Europa, América do Norte e América do Sul: o evento dedicado ao bem-estar dos colaboradores, organizado pela Workwell, teve a sua audiência online espalhada por vários pontos do mundo. Durante dois dias, os mais de 700 inscritos no evento, em formato presencial e remoto, puderam ver debatidos, por mais de 20 oradores, temas como saúde mental, programas de bem-estar organizacional, psicologia positiva, work-life balance, tecnologia e digitalização, e liderança positiva.
Galeria.
Passam poucos minutos das 10h e as portas do auditório do IAPMEI – Agência para a Competitividade e Inovação, no Lumiar (Lisboa), fecham-se para dar início ao Wellbeing Summit 2021. O evento com apresentação de Pedro Santos, associate product manager da Workwell, e de Joana Sousa, psicóloga clínica e da saúde da mesma empresa, toma início com a sessão de abertura conduzida por Tiago Santos, CEO e fundador da Workwell, que dá as boas-vindas aos participantes. Tiago Santos começa por explicar que o objetivo do evento passa por ajudar as organizações a tornarem-se melhores locais para trabalhar, alinhados com as necessidades dos colaboradores. Apesar de ainda se encontrar na periferia dos recursos das empresas, o bem-estar também traz retorno financeiro, já que colaboradores felizes e saudáveis também são colaboradores mais produtivos. Há, portanto, que dar a esta temática a importância que lhe é merecida.
Diagnosticar, avaliar, intervir e envolver!
“Conhece os seus colaboradores? Riscos e vulnerabilidades a que os colaboradores estão expostos” inaugura o leque de mesas redondas do dia. A moderar o debate está Joana Santos, psicóloga clínica na Workwell, que conduz a conversa entre Rui Gaspar, coordenador da Licenciatura em Psicologia e da Pós-graduação em Comunicação em Saúde Pública da Universidade Católica Portuguesa e presidente da Sociedade Europeia de Análise de Riscos; Cassiana Tavares, psicóloga, especialista em Psicologia do Trabalho e Clínica, e fundadora da clínica Tejo Saúde; e Gaspar Ferreira, especialista em Psicologia do Desporto e consultor especializado na área organizacional.
Se há uma palavra que se destaca neste debate é “diagnóstico”. Se os empregadores querem, de facto, conhecer os seus colaboradores devem diagnosticar – avaliar a perceção de riscos, a motivação, a intenção de mudança, e isto faz-se através, por exemplo, de questionários ou focus groups. É importante fugir de normalizações e estereotipias e deixar de se partir do princípio de que se conhecem as pessoas e as suas necessidades. Neste sentido, Rui Gaspar dá o exemplo do teletrabalho. As chefias podem assumir que os colaboradores se sentem confortáveis com esta modalidade de trabalho e, portanto, mantêm-se neste registo. “E que tal perguntar se as pessoas estão, efetivamente, a gostar de estar em teletrabalho?”, questiona o orador. Diagnosticar para prevenir riscos, antes destes já serem uma realidade, intervir sempre e envolver as pessoas nessa intervenção são os conselhos que ficam do debate inaugural do Wellbeing Summit 2021.
Segue-se a palestra de Carla Barros, responsável do programa de bem-estar da EDP e uma das keynote speakers do evento, que enfatiza a importância de se humanizar o negócio. “Na EDP, temos um sentido de relação à nossa comunidade e trazemos a nossa energia em prol das nossas comunidades”, diz. As pessoas estão no centro, porque as pessoas são negócio. São várias as ações levadas a cabo na EDP voltadas para as temáticas da saúde e bem-estar. Um dos eixos é o “Programa Conciliar”, que acompanha a experiência do colaborador desde o recrutamento até à saída da empresa, e prevê ofertas como aulas de ginástica, massagens, consultas de nutrição, “kit novos pais”, dia de aniversário, etc.
Uma outra vertente é o programa de voluntariado da EDP, que já dura há 10 anos. A empresa cede quatro horas por mês a nível de horário laboral para os colaboradores fazerem voluntariado. E podem abraçar as suas próprias causas!
Ao nível da aprendizagem e desenvolvimento, há ainda uma universidade interna, que promove talks, formações, sensibilizações com foco no bem-estar.
Na fase de pandemia, ganharam especial relevância medidas como a linha de apoio psicológico, que oferece seis sessões de acompanhamento aos colaboradores; a linha de apoio na área da saúde, que permitiu às pessoas esclarecer as suas dúvidas sobre a covid-19, numa altura em que a linha SNS24 tinha grande afluência; e a oferta das vacinas da gripe e da pneumonia.
Carla Barros fala-nos também da estratégia de bem-estar, recentemente aprovada na EDP, para os próximos quatro anos, que prevê cinco objetivos: promover uma experiência de bem-estar global, através de uma abordagem holística; liderar pelo exemplo, com líderes mais empáticos, autênticos e conscientes (e neste aspeto importa sublinhar o facto de Miguel Stilwell d’Andrade, chief executive officer da EDP, ser o sponsor da estratégia de bem-estar da empresa); focar e promover o bem-estar físico e mental; promover uma oferta de bem-estar útil, equilibrada, de fácil acesso e adaptada às necessidades dos colaboradores; e, por fim, comunicar bem para envolver.
“Os ‘Wellbeing Programs’ que fazem a diferença” é o mote para a segunda mesa redonda do dia. Tiago Santos é o moderador desde debate, que conta com as reflexões de Alexandra Pinote, head of health na Galp Energia, Natália Bernardo, associate director, health & benefits na Willis Towers Watson, e novamente Carla Barros. Mais uma vez, este debate acentua a importância da avaliação das necessidades de bem-estar dos colaboradores.
No caso da Galp Energia, a pandemia veio colocar cerca de 2.500 colaboradores em teletrabalho, uma realidade até então desconhecida pela empresa, mas que segundo Alexandra Pinote foi introduzida com sucesso. A empresa teve a preocupação de realizar surveys periódicos, que vieram revelar uma relação de proximidade entre chefias e colaboradores, a vontade de mais flexibilização no trabalho e uma maior conciliação entre o trabalho e a vida profissional. Por sua vez, na EDP realizam-se, de dois em dois anos, questionários de clima organizacional e, anualmente, são feitos pulse surveys. Uma questão interessante é que, para a empresa ter a certeza de que as suas pessoas escrevem nos questionários aquilo que realmente sentem, posteriormente dinamiza focus groups, para uma aferição mais próxima.
Como pontos fulcrais para fazer do trabalho um lugar melhor, Carla Barros refere a tolerância. “Sermos tolerantes connosco e com os outros, em prol da diferença que queremos fazer com a nossa organização.” Já Natália Bernardo destaca a importância de olhar para o bem-estar como um todo, do ponto de vista psicológico e físico, reforçando a necessidade de os setores RH terem “elasticidade” para responderem rapidamente aos desafios levantados pela temática e de trazerem o topo das lideranças para este problema. “Não basta orçamentar para custos de saúde, mas é preciso ter uma estratégia de cuidar de pessoas, para que se consiga ter um planeamento de benefícios bastante mais abrangente”, defende a oradora.
A associate director, health & benefits na Willis Towers Watson acrescenta ainda que é importante “escutar os colaboradores, para que as suas necessidades casem com as práticas das empresas. O foco tem de estar no colaborador e naquilo que ele quer. O colaborador que sente que a empresa cuida dele é um colaborador que responde às necessidades da empresa”.
7.500 óbitos diários por más condições de trabalho. Vamos ignorar este número ou agir?!
Após a pausa para almoço, o evento retoma com mais um keynote speaker. Desta vez, é José Rocha Nogueira, médico e coordenador do Programa de Saúde Ocupacional na Direção-Geral da Saúde (DGS), que se junta ao painel de palestrantes do primeiro dia do Wellbeing Summit 2021, para nos falar sobre saúde ocupacional. Desta palestra, ficam-nos números impressionantes.
Sabia que, a nível mundial, há cerca de 7.500 óbitos associados a condições profissionais perigosas e insalubres? E que, contrariamente ao expectável, a maioria (6.500) dos óbitos corresponde a doenças profissionais e não a acidentes de trabalho (1.000)? E sabia ainda que a Organização Internacional do Trabalho estima que os dias de trabalho perdidos por doença ou acidente de trabalho representam 4% do PIB mundial?
São, de facto, números extraordinários, que nos mostram forçosamente quão fulcral é refletir e agir sobre as condições de trabalho dos colaboradores – considerando ainda que, em média, 1/3 da nossa vida (cerca de 60%) é passada no local de trabalho.
Neste contexto, José Rocha Nogueira defende que a saúde ocupacional não é apenas uma obrigação legal, mas é indispensável à boa gestão empresarial; uma obrigação moral do empresário para que os seus colaboradores não adquiram consequências negativas em virtude das condições de trabalho.
“O local de trabalho como promotor de estilos de vida saudáveis” é a penúltima mesa redonda do dia e conta, novamente, com a moderação do CEO da Workwell. O painel de oradores é composto por Leonardo Piovesan, gestor de Saúde Corporativa no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo (Brasil), César Rabino, HSE/business continuity manager na Solvay, Miguel Arriaga, chefe da divisão de Literacia, Saúde e Bem-estar na DGS, e ainda Rita Cruz, head of HR department na SEG Automotive.
Miguel Arriaga inaugura este debate, apresentando um ponto de vista curioso. Para o orador, a adoção do estilo de vida saudável deve ser “oportunística”, ou seja, devemos utilizar o local de trabalho como uma oportunidade estratégica do ecossistema – parte de um todo. “É importante manter o bem-estar e a qualidade de vida dentro, mas também fora do âmbito do trabalho”, diz.
Foram várias as iniciativas promovidas pelas organizações dos palestrantes presentes nesta mesa redonda, para assegurar o bem-estar e a saúde dos seus colaboradores.
Começando pela Solvay, César Rabino fala-nos, numa primeira instância ao nível do desporto, de medidas como a promoção da participação na maratona da ponte sem custos associados, uma iniciativa em que se propôs aos colaboradores que, por cada 500 quilómetros corridos, 500 euros seriam doados a uma instituição, aulas de ginástica laboral (adaptadas ao contexto virtual, na pandemia), etc. Numa outra linha, breaks ativos de 15 minutos, meditação… “Estas pequenas atividades, ao longo dos anos, permitem que haja uma tentativa de introdução de hábitos saudáveis”, aponta.
Na DGS, Miguel Arriaga dá o exemplo da distribuição de kits de emergência aos colaboradores, para terem sempre acessíveis estes produtos em casa. O orador defende, no entanto, que deve haver proatividade de quem implementa estas medidas, a qual implica alguma continuidade – iniciativas pontuais nada adiantam; há que ser algo contínuo. Acrescenta ainda que as escolhas saudáveis devem ser as escolhas mais fáceis e criativas, para incentivar as pessoas a seguir pelo bom caminho. Por exemplo, bebedouros espalhados pelos edifícios, opções de alimentação saudável com baixos custos, incentivar a utilização das escadas em detrimento do elevador, com mensagens apelativas, etc.
Na perspetiva de Rita Cruz, é importante focar não só na ação, mas sobretudo na prevenção. No que à prevenção diz respeito, a oradora coloca o foco na ergonomia, para evitar más posturas e, consequentes, lesões musculosqueléticas; do ponto de vista da ação, enfatiza a importância do desporto, dando o exemplo de alongamentos no local de trabalho, monitorização das horas passadas ao computador e, ainda, o desafio do número de passos em torno do campus, com prémios associados.
No Hospital Alemão Oswaldo Cruz foi implementado o programa HIC – Health Improvment Programme, que pressupõe conhecer os seus colaboradores através de questionários online, antes do exame médico periódico anual, com perguntas de base (i.e., peso, idade, etc.), e, consoante os resultados, personalizam-se programas de bem-estar de acordo com as necessidades de cada um. O hospital dinamiza grupos de corrida e caminhada, jogos de futebol, sessões de coaching, entre outras iniciativas.
O primeiro dia do Wellbeing Summit chega ao fim com a última keynote speaker Mariana Moura, happiness manager na PHC Software. Para a oradora, há uma grande diferença entre implementar ações de bem-estar e ser uma empresa de bem-estar. “Qualquer empresa tem um budget e pode dinamizar várias atividades de bem-estar, a questão aqui é se tem, de facto, um ecossistema nesse sentido.”
Autenticidade, uma liderança envolvida, comunicação transparente, boas condições de trabalho, monitorização, celebração da cultura organizacional e segurança psicológica são alguns dos pontos chave para equipas felizes e satisfeitas.
Covid-19, a alavanca da transformação digital
Chega o segundo dia do Wellbeing Summit 2021 e com ele uma temática que não poderia ser mais atual: a digitalização. Se era algo que já regia o nosso dia a dia e que não mostrava sinais de abrandar, com a pandemia sofreu um impulso abrupto.
A digitalização permitiu transportar as iniciativas de saúde e bem-estar para uma realidade virtual, que assumiu uma importância fulcral numa altura em que as interações sociais foram reduzidas ao estreito círculo da família e, muitas vezes, nem isso.
A primeira mesa redonda do dia “Digitalização da saúde e do bem-estar. Os desafios e oportunidades do Mundo 4.0 para as organizações” conta com a moderação do associate product manager da Workwell, Pedro Santos, e no painel de oradores estão Afonso Rodrigues, senior business development manager iberia no Urban Sports Club, Ana Rebelo, chief marketing officer na VisaVis e Portugal representative na Thrive, Nuno Simões, diretor de capital humano da PwC Portugal, Cabo Verde e Angola, e Carlos Oliveira, CEO da Fundação José Neves e board member no European Innovation Council.
Para Afonso Rodrigues, a digitalização foi a resposta para as organizações não perderem a sua cultura, a sua identidade, durante a pandemia.
Foram vários os exemplos de aplicativos de saúde e bem-estar dados pelos oradores: desde apps de treinos online ou meditação, até apps que monitorizam a qualidade do sono ou que ajudam a gerir situações de stress, ansiedade ou tensão.
Como forma de medir a eficácia/aplicabilidade destes aplicativos, para além dos relatórios que permitem às empresas ver se o aplicativo está, efetivamente, a ser valorizado pelo colaborador, Nuno Simões destaca os surveys e focus groups. “Com esse ‘mix’, conseguimos ter uma noção clara se é para manter ou deixar cair as iniciativas”, diz.
Isabel Moço, docente e coordenadora na Universidade Europeia, vice-presidente da Pessoas 2020 e embaixadora da Aliança ODS, é a primeira keynote speaker deste dia, que oferece à audiência pistas resultantes da investigação que tem sido feita na área do bem-estar organizacional. Eis algumas das recomendações: auscultar; considerar o patchwork geracional (as incompatibilidades, baseadas nas diferentes idades) e a natureza do trabalho – “as atividades mudam, os processos mudam; a rotina é conforto e é preciso fazer um esforço para que as pessoas saiam do quadrado da rotina”; esclarecer e delimitar tempos.
Na mesa redonda seguinte fala-se sobre “O impacto das novas formas de trabalho no Clima e Cultura Organizacional” com Pedro Branco, business director na Header, a moderar o debate entre Cristina Barros, managing director do IIRH, Sílvia Nunes, director da Michael Page e, mais uma vez, Isabel Moço.
Sílvia Nunes revela que na Michael Page foi relativamente fácil colocar os colaboradores em teletrabalho, uma vez que as condições tecnológicas estavam asseguradas. O grande desafio foi manter o engagement.
Cristina Barros traz à audiência alguns dados interessantes da Organização Internacional do Trabalho (OIT): pessoas em trabalho remoto produzem entre 5% a 10% mais do que em trabalho presencial e 30% das pessoas não pretende, de todo, regressar aos escritórios. Para a managing director do IIRH, a modalidade de trabalho que as empresas adotam agora não é a definitiva. Evolução, mudança e adaptabilidade vão marcar muito o nosso dia a dia laboral nos próximos anos.
Psicologia positiva e felicidade nas empresas
A última keynote speaker do evento é Cristina Vaz Almeida, diretora da Pós-graduação em Literacia em Saúde Prática no Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), que nos fala sobre Psicologia Positiva, a ciência psicológica que enfatiza a busca pela felicidade humana.
E antes de chegarmos à última sessão do dia, tempo para um momento bastante dinâmico e divertido para quem marcou presença no auditório do IAPMEI, com alguns minutos de exercício físico. Mesmo escondidos pelas máscaras, os sorrisos enchem o espaço.
Quase, quase a vermos encerrada a 2.ª edição do Wellbeing Summit, tempo para debater sobre “Felicidade, Psicologia Positiva e Bem-estar: As melhores práticas nas empresas” com Irene Vieira Rua, DRH Doutor Finanças (moderadora), Fábio Pina, chief heart officer no Prime Group, Teresa Espassandim, psicóloga especialista & gestora de núcleo, Pessoas e Bem-estar, Serviços Partilhados Ministério da Saúde, Reinaldo Santos, docente no Instituto Universitário da Maia, e Rita Marques, chief happiness officer e marketing manager na Milestone. Mais uma vez, volta-se a reforçar a importância de aferir a eficácia das iniciativas que as empresas aplicam no sentido de promover o bem-estar dos seus colaboradores. Avaliar e construir o salário emocional, junto de cada colaborador e não aplicar a mesma receita para todos. Nas empresas deve haver intencionalidade nas práticas e não aplicar práticas pela “aparência”.
O evento da Workwell foi patrocinado pela Michael Page, Urban Sports Club, Willis Towers Watson, Deco Proteste e Inetum. Como parceiros institucionais, pôde contar com o apoio da Rede RSO PT – Rede Nacional de Responsabilidade Social das Organizações, IIRH, Fundação José Neves e Agis.
Ficou com curiosidade em aprofundar estas temáticas? Queria poder ter estado presente no evento, mas não conseguiu? Reveja os dois dias do Wellbeing Summit 2021 no canal de Youtube da Workwell, aqui!
Preparado para fazer da sua empresa um melhor lugar para trabalhar?