Alexandre Monteiro é mestre em decifrar pessoas e no seu último livro “Torne-se um Decifrador de Pessoas” (Planeta), publicado em junho deste ano, revela métodos que ajudam a conhecer quem temos à nossa frente, através de gestos e sinais revelados pelo corpo. É já no dia 16 de novembro que poderá assistir à palestra “Decifrar Pessoas” e ficar a saber a que sinais devemos estar atentos no universo profissional. Não vai querer perder, pois não? Inscreva-se na RH Conferência 2021 aqui!
Leia, agora, a versão alargada da entrevista publicada na edição 136 da RHmagazine (setembro/outubro).
Como e por que surge este livro?
O pensamento de ler as pessoas, como Sherlock Holmes fazia, acompanha-me desde sempre. E, desde então, procurei aproximar-me desta leitura de pensamentos e decidi aprender tudo sobre como decifrar pessoas com os maiores especialistas do mundo, desde especialistas em linguagem corporal e em inteligência não verbal, até ex-agentes do FBI, espiões, terapeutas, psicólogos e investigadores do comportamento humano.
É uma tendência geral as pessoas perderem o interesse pelos pormenores e prestarem somente atenção ao que é novo. Começou a parecer-me estranho perceber que a maioria das pessoas mantinha uma confiança quase cega nas palavras e no poder da perceção, ficando indiferente aos sinais não verbais e sofrendo muitas vezes de cegueira desatenta, não conseguindo ver o que muitas vezes estava à sua frente. Essa desatenção afastava-as dos objetivos ou causava-lhes alguns problemas, devido à inocência de acharem que os outros partilham dos mesmos pensamentos e das mesmas intenções que elas próprias.
Perguntava-me o porquê de muitas pessoas se terem esquecido da linguagem mais antiga e mais verdadeira do ser humano e sabia que dominar e controlar essa linguagem silenciosa – a arte de decifrar pessoas – dar-me-ia o poder de saber mais sobre as pessoas, sobre as suas motivações, os seus medos, intenções e os seus segredos mais profundos, e antecipar comportamentos, alterar estratégias de comunicação de acordo com o contexto e proteger-me de relações tóxicas.
O meu maior objetivo é que use a arte de decifrar pessoas no seu dia a dia o mais rapidamente possível, pois dar-lhe-á muita informação necessária para analisar os sinais com maior eficácia e com menos erros, sem que perca as competências profissionais ou inatas.
No universo profissional, a que sinais devemos estar atentos?
A todos, porque toda a ação tem uma razão. Todos os sinais que emitimos de uma forma não verbal, consciente ou inconscientemente, revelam o que estamos a sentir, quais as nossas intenções ou ações seguintes. Ter conhecimento destes sinais, de como os interpretar e otimizar, garantir-lhe-á sucesso tanto na vida profissional, como na vida pessoal. A linguagem corporal é um dos fatores mais importantes na hora de decidir quem é contratado ou promovido. “O que está o cliente a pensar?”, “O que sente?”, “Como me vê?”. Todas estas questões podem ser decifradas, mesmo antes de a pessoa falar. No universo profissional, é bom estar atento aos sinais de perigo ou ameaça, sendo importante antecipar as intenções e evitar estar em modo de reação.
Alguns sinais de alerta são:
- Contacto ocular muito intenso e fixo (sinal de domínio e controlo);
- Expressão facial de desprezo (superioridade moral ou prazer do manipulador);
- Pés ou umbigo apontam para a porta (tentativa de fuga, pelo medo de ser apanhado a mentir);
- Posturas cruzadas a maior parte do tempo (receio, medo ou desconforto);
- Esconder as mãos, colocando-as debaixo da mesa;
- Tocar muito na cara (ansiedade e nervosismo);
- Familiaridade excessiva (tentativa de manipulação);
- Esfregar as mãos devagar (expectativas de ganhos só para si);
- Pé ou perna a balançar.
Explica que ao analisar a zona da porta do carro de uma pessoa conseguimos perceber muitas coisas a respeito dela. Será assim com a mesa/secretária de trabalho?
A casa, o escritório e o carro dão-nos muitas pistas sobre as nossas aspirações, sonhos e intenções. Observar como as pessoas os escolhem e decoram, em que gastam dinheiro, ou o que desleixam, dá-nos informação sobre como elas se veem ou como querem ser vistas pelos outros. Por exemplo, quem é meticuloso com a sua aparência, normalmente também é meticuloso com o seu carro. Um carro com muitos riscos ou mossas revela um passado desleixado, tal como um interior sujo indica desleixo. No escritório, se é das pessoas que gosta de chegar cedo, significa que é mais ansioso e perfecionista; se chega com frequência atrasado tem dificuldade na gestão de tempo. Por este motivo, as pessoas mais pontuais têm nos seus espaços uma maior presença de calendários, listas de tarefas e relógios. Outro facto interessante é que as pessoas que decoram os seus escritórios, normalmente, são extrovertidas e apresentam níveis mais elevados de satisfação no trabalho, bem-estar psicológico e saúde física, e a presença de post-its indica vontade de organização; já quem deixa a sua secretária desorganizada, tende a fazer reuniões não preparadas, por intuição, e com falta de dados, o que revela distanciamento emocional à empresa. As pessoas extrovertidas gostam de estar acompanhadas, por isso, enfeitam os seus locais de trabalho com fotografias de amigos ou outros símbolos de amizade, gostam de ouvir música, e deixam as portas abertas para socializarem mais com os colegas. As introvertidas, em contraste, fecham as portas, têm paredes “frias” e cadeiras menos confortáveis.
Numa entrevista de recrutamento a que aspetos do candidato deve estar mais atento o entrevistador?
A linguagem corporal do candidato pode ajudá-lo a criar uma maior ligação emocional, demonstrar mais liderança, credibilidade e competência e, assim, conseguir diferenciar-se dos outros candidatos. Deve começar a otimizar a sua imagem não verbal logo na sala de espera, esperando de pé e não se encostando a paredes ou balcões, tendo apenas na mão um caderno ou bloco de notas, bolsa ou carteira. O perfume deve ser suave, porque excessivo gera desconfiança. O telemóvel deve estar desligado ou sem silêncio. As mãos não devem estar nos bolsos e, caso o candidato cruze os braços, convém exibir pelo menos um polegar. A cópia do currículo deve ser entregue numa capa mais pesada do que o normal, pois irá fazer com que o entrevistador perceba uma diferença inconsciente, relativamente aos outros candidatos. O candidato deve aplicar a técnica “S.O.P.A. – Sorrir. Olhar nos olhos. Palma das mãos visíveis. Aparência cuidada e adequada ao cargo”. O entrevistador vai procurar normalidade, já que uma diferença significativa na aparência poderá fazer com que o candidato seja percebido como uma ameaça ao grupo. A primeira impressão é essencial e vai ter um impacto enorme na forma como a entrevista irá decorrer. Em entrevistas de trabalho, devemos emitir mais sinais de submissão, uma vez que os entrevistadores têm tendência a recusar os candidatos quando se sentem “ameaçados”. No entanto, existe uma exceção a esta regra, caso o cargo for de chefia – desta feita, deve emitir alguns sinais de dominância, como inclinar-se ligeiramente para a frente, fazer menos movimentos com as mãos e dar um aperto de mão mais firme.
Como se reconhece um líder?
Não basta ser competente, atraente e saber falar, é necessária energia, pois ser visto como alguém jovial e saudável dar-lhe-á mais poder e torná-lo-á mais atraente.
Estas fórmulas têm de funcionar, muitas vezes, em 50 milissegundos, que corresponde a um piscar de olhos, já que é o tempo que o cérebro emocional demora a avaliar as pessoas. Esta perceção define todas as interações da nossa vida. O nosso cérebro emocional interpreta e responde à pergunta se o outro é ou não líder, se é ou não competente, de forma a satisfazer as nossas necessidades de sobrevivência. Se for líder, é bom, porque nos ajuda a sobreviver, por isso é que temos uma tendência para seguir a liderança, desempenhando ações de forma inconsciente só porque assim nos foi pedido pela autoridade.
Que conselhos deixa para lidar com colegas ou hierarquias tóxicas? Como se reconhecem?
90% da proteção é a prevenção e, para isso, tem de ter o conhecimento e as ferramentas necessárias para identificar e proteger-se das pessoas tóxicas ou manipuladoras.
Estar atento é a primeira arma para afastar as pessoas tóxicas, porque estas procuram sempre presas fáceis ou distraídas, tal e qual como os agressores.
Ser percebido como frágil é um gatilho poderoso para se tornar uma vítima, mas estar perdido ou distraído tem o mesmo efeito na cabeça dos manipuladores, quando escolhem uma pessoa para atacar ou dominar.
A segunda arma é não cair nas suas armadilhas emocionais. Eles sabem, de forma muitas vezes inata, o que torna as pessoas ainda mais vulneráveis, além da insegurança e distração. São hábeis e usam as fragilidades do ser humano para controlar e dominar.
Existe uma máxima no mundo dos agentes secretos: “Estar parado torna-o um alvo fácil”. Se identificar que está perante uma pessoa tóxica, manipuladora, narcisista ou agressora, mexa-se! Não fique parado como acontece em muitas situações, quando a pessoa não se sente confiante ou segura – seja em relações profissionais, nas quais lida com chefes narcisistas ou psicopatas, seja nas relações sociais, quando supostos amigos são manipuladores e só interagem porque precisam dos seus favores (e deixamos que o façam porque temos medo de perder o seu amor). Ainda assim, evite situações e discussões parvas ou confrontos desnecessários – sair ou não enfrentar não é uma fraqueza, é inteligência. Nem toda a ação deve ter reação – tenha o poder de não reagir quando atacado e ganhe tempo para pensar na melhor forma de o fazer.
Existem vários sinais que podem revelar uma pessoa tóxica, tais como:
- Domínio e controlo excessivo;
- Necessidade de admiração exagerada;
- Falta de sentimentos pelos outros;
- Quando o grupo está comovido, exibe felicidade ou indiferença;
- Egoísmo;
- Muitos gestos e palavras de superioridade moral;
- Querer ter sempre a última palavra;
- Ouvir, mas não escutar;
- Desprezo;
- Mentir em excesso, porque se sente superior;
- Não ter remorsos ou sentir culpa;
- Explodir emocionalmente em pressão;
- Familiaridade excessiva – demasiada intimidade e amizade no início da relação;
- Ego elevado;
- Inventar elogios – elogia para ganhar poder;
- Gentileza por interessa;
- Reclamar e criticar com frequência;
- Gostar de diminuir e procurar defeitos;
- Ridicularizar, expor medos e defeitos, ser sarcástico;
- Fazer-se de vítima;
- Lembrar favores;
- Chantagista – “Só vou, se tu fizeres…”;
- Querer ser ajudado, mas quando se verifica o inverso estar constantemente ocupado.