A responsável de operações da Beta-i considera que a construção de uma equipa de alto desempenho exige pessoas certas e talento.
Assunção Loureiro é co-fundadora da Beta-i, nascida em 2009, e responsável de operações da empresa há um ano. Nos últimos doze meses, envolveu a equipa na criação dos valores da empresa, para que, depois de a ter desafiado, refletissem a identidade da “nova Beta-i”. A experiência que encerra na construção de high performance teams começou na Fox Networks Group, que integrou em 2005, como coordenadora de vendas e marketing, e onde permaneceu durante dez anos. Passados três anos da sua chegada, foi nomeada country manager para Portugal e para os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e, com ela, a equipa cresceu para mais de 60 colaboradores. Agora na Beta-i, que conta com 57 profissionais, e em entrevista ao InfoRH, revela que “a base de uma high performance team são as pessoas certas e o talento”.
Considera que o lançamento e liderança da operação da Fox Networks no mercado português foi o grande desafio da sua carreira profissional?
Foi, sem dúvida, o primeiro grande desafio da minha carreira profissional. Quando aceitei o desafio de fundar e liderar a Fox Networks em Portugal dei um grande passo na transição da comunicação enquanto área de formação, para a gestão de negócio e de equipas enquanto área de realização profissional, pois o meu grande foco foi, durante os dez anos em que estive à frente da empresa, precisamente o de blindar o negócio através da construção de uma equipa de 60 colaboradores, entre Lisboa e Madrid. Foi aí que realmente fui confrontada com o impacto real que a liderança de uma equipa de alto desempenho tem nos negócios e no seu sucesso – não há desafios inultrapassáveis para equipas alinhadas, coesas e comprometidas. E se um dos grandes desafios por que passei na Fox foi o de gerir uma equipa num contexto de transformação digital – porque foi nos anos em que estive à frente da Fox que assistimos a uma verdadeira revolução ao nível dos conteúdos, da sua distribuição e consumo não linear –, a verdade é que hoje encaro-o como a preparação daquele que considero o grande desafio da minha carreira: a entrada na Beta-i. Como sócia, e responsável pela área de talent, sinto uma enorme evolução no meu papel por uma série de razões: porque é uma empresa “minha”, onde, de facto, tenho uma voz real e mais ativa naquilo que somos, sem “desculpas” de regras ou orientações internacionais, porque é uma entrada num setor que escapava à minha zona de conforto, porque as decisões não dependem de mim apenas – co-liderança com a equipa é uma coisa e com sócios é outra – e porque temos uma ambição nobre de contribuir para algo que faça realmente a diferença e isso exige mais de nós. Penso que quando somos nós a impor-nos determinados objetivos somos sempre mais implacáveis com a sua prossecução.
Aos 37 anos, sai da Fox Networks e, aos 40, em conjunto com sete colegas, integra a Beta-i, que ajudou a fundar. Como é que descreve esta mudança profissional?
A Beta-i nasce em 2009 com o objetivo de promover o empreendedorismo em Portugal. Ao longo da última década tem sido reconhecida pela construção e transformação de um ecossistema de inovação em Portugal, envolvendo startups, investidores, grandes empresas e instituições governamentais, foi desenvolvendo eventos nacionais e internacionais na área do empreendedorismo e foi pioneira na criação de programas de pré-aceleração e aceleração de startups, tal como o Lisbon Challenge. Através da colaboração entre grandes empresas, investidores e startups e metodologias inovadoras, a ambição da Beta-i foi, desde o início, tornar Lisboa a capital city das startups na Europa. Dez anos depois, a ambição fala ainda mais alto com esta nova estratégia. Sob o mote “Building the Innovation Ecosystem”, queremos ser um dos principais atores na liderança desta transformação que atravessa a economia e os negócios, contribuindo para construção de uma verdadeira cultura de inovação a nível nacional e internacional.
A minha entrada na Beta-i aconteceu no ano passado, na altura em que a organização se fundiu com a boutique de inovação Couture e deu início a uma nova estratégia fundada e liderada por oito sócios, com um objetivo comum: consolidar a empresa como player incontornável nas áreas de aceleração, inovação aberta e corporativa e também de educação, não apenas em território nacional, mas cada vez mais reforçando a sua pegada internacional. Como co-fundadora desta “nova” Beta-i, tenho a responsabilidade direta dos pelouros de marketing e de talento. Tudo isto representa um enorme desafio que encaro com a maior expectativa, dedicação e humildade. A minha missão é consolidar a diferenciadora proposta de valor da empresa, através da construção e gestão de uma equipa única, de elevado desempenho, que junta quase 60 pessoas de oito países diferentes, e de uma cultura organizacional capaz de superar qualquer desafio.
Penso que quando somos nós a impor-nos determinados objetivos somos sempre mais implacáveis com a sua prossecução.
Que características considera terem sido essenciais no seu percurso profissional?
Individualmente, destaco a vontade de trabalhar e de fazer a diferença, independentemente do desafio que tivesse pela frente, fosse redigir um press release ou desenvolver uma estratégia de comunicação para um cliente, conceber e implementar uma campanha de marketing ou lançar uma operação de dez canais internacionais em Portugal. Acredito que as capacidades de adaptação e de transformação constantes, ao longo da carreira, são das mais valiosas para o mercado de trabalho ao dia de hoje. A resiliência, palavra que aparentemente está muito na moda, foi muito importante em diversos momentos, principalmente por não permitir que eu tivesse desistido de alguns desafios. A dedicação e empenho, bem como a atenção aos detalhes foram também determinantes.
Em termos coletivos, destaco a empatia e o facto de me focar na pessoa para além do profissional (com desafios e circunstâncias diferentes das minhas), tanto no caso da equipa, como de clientes ou parceiros, que sempre me ajudou a ser mais ou menos compreensiva consoante os casos. A ética profissional é fundamental porque sempre me deu a confiança de que o que fiz tem bases sólidas. Finalmente, a capacidade de me divertir enquanto trabalho tem ajudado a dar sentido às minhas opções e a construir relações com pessoas incríveis por todo o mundo. Não consigo conceber que “aquilo” a que dedicamos mais de 70% do nosso tempo (acordados) não nos faça vibrar e nos encha de orgulho – sendo que reconheço que é também um privilégio consegui-lo ao longo da vida.
É a única mulher na administração da Beta-i. Considera que é uma responsabilidade?
Não acho que seja uma responsabilidade por ser mulher, mas sim pelo desafio que tenho em mãos. Somos oito sócios na administração com percursos e perspetivas muito diferentes e é isso mesmo que enriquece a nossa organização. Ainda assim, a diversidade de género está mais espelhada ao nível da equipa de liderança, onde outras três grandes profissionais (mulheres) se juntam a nós. É precisamente enquanto equipa de liderança da Beta-i que temos a grande responsabilidade de inspirar e desafiar toda a equipa, partilhando uma visão e uma missão, balizando os riscos, ao mesmo tempo que damos espaço de manobra para cada um encontrar o seu “sweet spot” e crescer, orgânica e exponencialmente. Vivemos num contexto inegável de transformação digital e ao mesmo tempo que desafiamos os nossos clientes a abraçarem esse contexto, temos nós próprios de o viver internamente. Se há desafio que me motiva é o de ter uma equipa fluida e dinâmica, que em vez de se agarrar a job descriptions, agarra-se à vontade de fazer acontecer. Mais do que ser mulher, considero que aquilo que aporto à equipa de liderança tem a ver com isto: ser capaz de criar uma cultura de transformação, com um mindset virado para a obtenção de resultados concretos.
Não consigo conceber que “aquilo” a que dedicamos mais de 70% do nosso tempo (acordados) não nos faça vibrar e nos encha de orgulho.
Como responsável de operações da Beta-i, acompanha de perto a equipa, que é constituída por 57 profissionais, de diferentes nacionalidades. O desafio tem sido criar uma cultura organizacional?
Os desafios são vários, mas acredito que todos têm como denominador comum uma cultura organizacional forte. Entendendo a cultura como tudo o que caracteriza e define uma empresa. Ela nada mais é do que a soma das atitudes e dos comportamentos que essa empresa ativamente promove com aquilo que ela não permite ou não tolera. No caso particular da Beta-i, a diversidade de backgrounds, de culturas e de origens, além de ser promovida, acaba por nos definir. Acredito mesmo que esse é um dos nossos pontos fortes. As nossas metodologias, comportamentos, símbolos e processos nascem no respeito pelas diferenças entre nós e da inclusividade que nos caracteriza. Nos processos de recrutamento procuramos, acima de tudo, perceber se há culture fit com a Beta-i. A atitude certa é o mais importante para o ambiente criativo e colaborativo que promovemos, pois garante-nos que as competências que eventualmente possam ser necessárias (e inexistentes à partida) serão facilmente incorporadas, dado que o entusiasmo, a agilidade e a vontade de fazer acontecer estão lá em primeiro lugar.
E como é que tem sido desenvolvida a cultura organizacional da Beta-i?
A Beta-i foi criando a sua cultura organizacional com base em valores definidos ao longo dos anos, sendo que desde o início que tem uma cultura muito própria. Com o crescimento da equipa e com novos desafios e objetivos estratégicos, percebemos que era necessário fazer um novo trabalho para que os valores espelhassem a “nova” Beta-i. Durante um retiro de equipa, dividimo-nos em grupos para prototiparmos esses mesmos valores, um exercício que nos ajudou tanto a perceber como se traduziam no nosso dia-a-dia, como a identificar alguma lacuna existente. Para que este exercício não fosse meramente teórico, criámos uma taskforce para assegurar a sua continuidade. Este grupo começou por fazer um trabalho de observação para validar se, de facto, aquilo que identificávamos como valores era algo que vivíamos na prática. Depois deste passo, houve um esforço de convergência para apenas cinco valores que agregam, cada um, diferentes comportamentos e atitudes. Visto que os nossos valores têm de ser algo característico da Beta-i e da nossa identidade disruptiva, demos-lhes o nome de Superpoderes, aquilo que espelha o nosso ADN:
. Humaniacs – “Humans at the heart of all we do”
. Teampathy – “Empathy makes us Beta-We”
. Ownershift – “Own the Shift you want to see”
. Feedgize – “Energize yourself through constant Feedback”
. Distinctify – “Show the distinctive You”
A partir daqui, em cada mês, temos implementado iniciativas que reavivam os nossos superpoderes, se bem que naturalmente pautam tudo o que fazemos, com referências diárias no slack, nos corredores, nas salas de reuniões. Todos os colaboradores da Beta-i são protagonistas e super heróis se quisermos manter a analogia. Os nossos valores visam refletir um conjunto de competências e ações que julgamos indispensáveis a uma equipa em contante crescimento, transformação e evolução. O nosso foco está sempre em resultados e no impacto que geramos em clientes, na comunidade, no ecossistema e mesmo na Beta-i. O compromisso da equipa com estes valores é fundamental para darmos corpo à nossa promessa e à nossa missão.
Na Fox Networks Group, eram 60 profissionias. Na Beta-i são 57. Como é que se constrói e lidera uma high performance team?
Caminhamos rapidamente para mais de 60, já que temos neste momento cinco vagas abertas, principalmente na área de business e de open innovation. Em qualquer organização, a base de uma high performance team são as pessoas certas e o talento. Depois é preciso ter a estrutura adequada para responder aos desafios do dia-a-dia, ou seja, ter as pessoas certas nas posições certas, alinhadas com os valores, visão e missão da empresa. Na Beta-i, temos as pessoas certas e temos uma cultura organizacional vincada. Por isso, o nosso foco tem sido assegurar o propósito comum, ou seja, todos sabermos onde queremos chegar, seja através de reuniões regulares de alinhamento, de OKR’s ou taskforces. Paralelamente, estamos a trabalhar para assegurar que as pessoas têm as ferramentas e as competências certas para executar o que é esperado delas. E, por último, a condição si ne qua non, para a convivência de todos os fatores referidos acima, é fundamental assegurar que estamos todos alinhados enquanto equipa, pois só quando cada pessoa souber exatamente o que é esperado dela, qual a importância do seu contributo para o resultado final e tiver autonomia para tomar decisões informadas, é que a Beta-i conseguirá levar o seu desempenho para o próximo nível.
Em 2019, o que podem os clientes da esperar Beta-i?
Sobretudo uma empresa com maior maturidade, mais flexível e com maiores níveis de especialização, ao nível de talento. Teremos também novos projetos nas áreas de aceleração, da inovação corporativa e da educação, muitos deles à escala global. Inevitavelmente, teremos também algumas dores de crescimento, resultantes da diversidade de desafios e projetos que temos no pipeline neste momento e que nos vão certamente obrigar a uma aprendizagem e crescimento consideráveis, mas não tenho dúvida de que a Beta-i terminará 2019 em grande.