Autora:
Sílvia Marina, Psicóloga, Centro de Inovação Médica
As perturbações de ansiedade, a depressão, os ataques de pânico e o stress são um reflexo das alterações dum mundo moderno competitivo e inflexível. Estas patologias, cujo número de casos não para de aumentar, não podem ser escondidas. Bem pelo contrário.
No momento atual, as adversidades advindas da pandemia Covid-19 têm vindo a exponenciar este impacto e a mostrar as fragilidades dos cuidados à saúde mental. As mudanças ocorridas foram várias: por exemplo, a implementação do teletrabalho, aulas online, as questões económicas e a incerteza do futuro. Estes acontecimentos vieram alterar a forma como as pessoas percecionam esta nova realidade, organizam o seu dia a dia, obrigando a uma aquisição de novas competências de gestão emocional e à readaptação dos hábitos, o que pode muitas vezes não ser fácil de gerir. Para além disso, outros fatores, ainda que necessários para a proteção da saúde, tais como o isolamento ou o distanciamento social, poderão constituir riscos para o desenvolvimento de sintomatologia como o humor deprimido, a irritabilidade e a ansiedade.
A tudo isto juntam-se ainda muitas necessidades de intervenção ao nível da saúde mental, seja por dificuldades de resposta do próprio sistema, seja por crenças pessoais, com o indivíduo a tender a não aceitar que pode ter uma doença mental. Afinal, é mais fácil aceitar que se tem diabetes ou hipertensão arterial do que aceitar que se tem uma depressão, que muitas vezes vai durar a vida toda. Regra geral, há um período em que a pessoa quer acreditar que com força de vontade consegue lidar com os sintomas; até que após tantas recaídas é levada a aceitar, ainda que com grande dificuldade, que de fato precisa de tratamento para toda a vida.
Comparativamente, é mais fácil aceitar a doença orgânica do que a psicológica, e achamos sempre ser capazes de dar a volta aos sintomas. É como se houvesse uma diferença entre espírito e corpo, quando na realidade corpo e mente são um só. Isto também se liga ao medo de perder o juízo, ao medo de deixar de ser quem é, da doença nos mudar, dos medicamentos nos mudarem, dos tratamentos fazerem de nós pessoas que não conhecemos.
Algumas situações são particularmente complicadas quando não aceitamos que a nossa mente, o nosso cérebro, pode dar sintomas. Muitas vezes não nos queixamos e, por exemplo, estamos a pensar que nada faz sentido, e que o melhor é terminar. Este só por si é um sintoma que devemos partilhar!
Outro exemplo é quando acreditamos que nos querem mal, que está tudo contra nós, quando chegamos ao ponto de querer fazer mal a alguém. Este é outro sintoma, por vezes difícil de admitir, mas que também tem tratamento. De facto, os sintomas mentais psicológicos ainda têm muito estigma associado e representam o desconhecido. É por isso necessário aceitar os sintomas e sobretudo aceitar que só com ajuda externa podemos ultrapassar a situação. Ou seja, é fundamental tratar a mente com a mesma urgência com que se trata o resto do corpo.
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