Pedro Brás considera que um profissional feliz é uma pessoa feliz.
Pedro Brás é CEO da TEAM 24 e da Clínica da Mente, estudou Gestão Empresarial e fascinado pela hipnose clínica e pela Programação Neurolinguística (PNL) estudou sobre o tema. Criou a Clínica da Mente, que diariamente contribui para o bem-estar psicológico de milhares de pessoas.
O Pedro tem vindo a desenvolver terapias com o objetivo de ajudar pessoas com perturbações emocionais, como a depressão e a ansiedade, sem recorrer à medicação. Fale-nos um pouco deste seu percurso profissional.
Desde a minha juventude que me interesso pelo comportamento humano. Quando aos 12 anos li um livro que falava sobre a hipnose e de como se podia hipnotizar as pessoas, cresceu em mim um fascínio sobre a mente humana e uma profunda curiosidade sobre a forma como pensamos e decidimos. Fiz a minha formação académica na área da Gestão Empresarial e durante a vida adulta tive várias empresas em ramos tão diferentes como a hotelaria ou a construção. Mas o fascínio pela hipnose clínica e pela Programação Neurolinguística (PNL) levaram-me a estudar muito sobre o tema, até que comecei a praticar algumas técnicas terapêuticas com amigos e conhecidos. Ainda como hobby, comecei a ter resultados muito positivos a ajudar pessoas que sofriam de depressão e ansiedade. Estava, de facto, a tratar doenças psicológicas que todos diziam que não se curavam, que eram exclusivamente de origem genética ou que apenas a medicação podia tratar. Como não sou psicólogo, a temática da saúde mental era me desconhecida até então. E por estar a ter bons resultados terapêuticos numa área tão controversa como a saúde mental, dediquei todas as minhas energias para desenvolver mais e melhores terapias psicológicas para intervir nos estados de depressão e ansiedade que perturbam tanta gente. Como consequência deste esforço, criei a Clínica da Mente, onde atualmente trabalham 50 pessoas, 30 das quais psicólogas especialistas, que diariamente contribuem para o bem-estar psicológico de milhares de pessoas.
Criou a Team24 com o objetivo de promover o bem-estar psicológico dos colaboradores. Acredita que colaboradores felizes e saudáveis aumentam a produtividade da organização?
Grande parte das nove mil pessoas que a Clínica da Mente tratou durante os últimos dez anos estava de baixa médica e o motivo era a incapacidade causada por doenças psicológicas como a depressão ou a ansiedade. Para além do grave problema do absentismo, as pessoas com problemas psicológicos não conseguem dar todo o seu potencial na sua atividade profissional. Como consequência do tratamento, as pessoas voltam a trabalhar no seu melhor desempenho, situação benéfica para ambas as partes: colaboradores e organizações. Por termos dados concretos de que as organizações lucram com a boa saúde mental e felicidade dos colaboradores, criámos uma estratégia onde são as empresas a facilitar estes tratamentos aos mesmos.
Fale-nos um pouco do Programa de Apoio ao Colaborador e à Organização que disponibilizam ao mercado?
Nos países anglo-saxónicos os EAP (Employee Assistence Programs), centrados no apoio psicológico, são uma realidade. Em Portugal, havia esta lacuna. Por isso, a TEAM 24 criou estes programas que, para além de promoverem o bem-estar psicológico e saúde mental, são ótimas estratégias de captação e retenção de talento e de employer branding. O Programa de Apoio ao Colaborador pode ser atribuído como um benefício extrassalarial de grande valor percebido pelos colaboradores. Assenta em quatro eixos: a assistência psicológica telefónica, as consultas de psicologia, o tratamento de psicoterapia e a intervenção em caso de emergência psicológica. O objetivo é promover o bem-estar e a saúde mental dos colaboradores, e deste modo, potenciar o sucesso das organizações. O Programa de Apoio à Organização engloba um conjunto de serviços que visa melhorar os índices de felicidade organizacional. A TEAM 24 faz uma avaliação diagnóstica no que diz respeito aos riscos psicossociais da organização, realiza formação que vise colmatar as necessidades identificadas e disponibiliza um happiness manager que acompanha de perto o sucesso da implementação deste programa, medindo o seu impacto junto dos colaboradores e da organização. O investimento nestes programas tem um rápido retorno do investimento para a organização, pois sabemos que por cada euro investido na saúde mental, há um retorno de quatro euros para a organização (OMS).
Na sua opinião, quais são os fatores que caracterizam um profissional feliz?
Um profissional feliz é uma pessoa feliz, não se consegue dissociar o profissional da pessoa. Uma pessoa feliz é uma pessoa que se sente bem com ela própria e com as circunstâncias que a rodeiam. Só uma parte da felicidade e do bem-estar é responsabilidade das condições oferecidas pelas organizações. A grande responsabilidade da infelicidade da pessoa é a sua vida pessoal e a sua própria estrutura emocional. Por isso, muitas vezes as empresas criam espaços e condições agradáveis, mas não conseguem intervir na felicidade das pessoas e continuam a enfrentar problemas de absentismo, turnover e falta de produtividade.
Atualmente, existe uma grande preocupação por parte das empresas em proporcionarem um bom ambiente de trabalho. Que ferramentas podem ser utilizadas pela área de RH para que o ambiente de trabalho se torne um local propício à felicidade?
Cada organização tem diferentes necessidades. E os colaboradores, por sua vez, também têm interesses e expectativas diversificadas. Por isso, é importante avaliar, diagnosticar e mensurar, de forma sistemática, as necessidades que condicionam a felicidade organizacional. No mercado, já existem ferramentas que apoiam esta prática. A TEAM 24 pode ser uma ajuda para as equipas de RH porque disponibiliza, às organizações, uma plataforma de inquéritos “online”, que são preenchidos de forma anónima e cujo resultado é emitido sob a forma de relatório. Não nos podemos esquecer, também, da importância da flexibilização. E felizmente, já existem plataformas que facilitam este processo.
O que acha que ainda falta às empresas portuguesas no campo da felicidade organizacional?
Em Portugal, não há ainda uma cultura de felicidade organizacional ligada ao bem-estar psicológico. Investe-se em benefícios ligados à saúde física, à formação, aos planos de reforma, às condições do local de trabalho e à flexibilização do horário e do local de trabalho, mas a saúde mental tem sido negligenciada. As organizações devem olhar sem estigma para o apoio psicológico, valorizando-o como uma peça fundamental no bem-estar dos colaboradores.
E sendo que em Portugal, o stress e a saúde mental são as principais preocupações que afetam a saúde e o bem-estar dos colaboradores, as organizações deveriam rever a priorização da atribuição de benefícios.
Na edição anterior da RHmagazine abordámos um tema bastante polémico – burnout. Acha que cada vez mais existe esta síndrome nas empresas portuguesas?
Sim, é uma realidade atual. Neste momento o burnout pode custar cerca 329 milhões de euros às empresas. Em Portugal, estima-se que dois em cada dez trabalhadores sofram de problemas de saúde psicológica e que faltem ao trabalho 1,3 dias por ano devido a estes problemas. Existem vários fatores que contribuem para o aumento deste flagelo: mercados extremamente competitivos, capital humano cada vez mais qualificado, guidelines apertadas, entre outros. Mas sem dúvida que a digitalização, apesar das suas múltiplas vantagens, é um dos fatores da atualidade que mais contribui para o stress laboral. O facto de estarmos sempre ligados tem grandes implicações para a nossa saúde mental.