Autora: Margarida Partidário, Fundadora e CEO da Arboreall, Empowering Uniqueness
Os recursos humanos permitem as empresas alcançarem vantagem competitiva de forma sustentada (Barney, 1991). Durante as últimas décadas, o construto – Capital Intelectual – tem vindo a emergir e a ganhar relevância, não só como um impulsionador do desempenho corporativo (Abdullah & Sofian, 2012), mas também da criação de valor e inovação da empresa (Machado et al., 2018). Por esta razão, a gestão do Capital Intelectual é considerada uma atividade crucial para a eficiência e produtividade da organização (Gogan et al., 2016).
O desempenho vanguardista de uma empresa do século XXI, de acordo com os objetivos da Europa para 2020, requeria a gestão do Conhecimento e do Capital Intelectual por se considerar serem ambos fatores de especial importância na diferenciação de uma empresa (Gogan et al., 2016).
Derivado deste entendimento, que se começa a generalizar, os colaboradores estão a adquirir, por parte dos departamentos de Recursos Humanos, maior reconhecimento e tratamento, como se de clientes internos se tratassem, assim como os candidatos estão a receber uma atenção especial como a habitualmente dedicada aos consumidores (Cober et al., 2004). Isto significa que o poder se está a transferir de empresas para pessoas, forçando as empresas a adotar uma filosofia verdadeiramente centrada no ser humano, pela primeira vez.
Segundo Roos et al. (2015) o Capital Intelectual são «todos os recursos não monetários e não físicos que são inteiramente ou parcialmente controlados pela organização e contribuem para a sua criação de valor». Por outras palavras, o Capital Intelectual é um ativo intangível que pode ser subdividido em quatro componentes complementares: Capital Humano, Capital Estrutural, Capital Relacional e Capital Espiritual.
O Capital Humano é composto pelo conhecimento, pelas competências e experiências profissionais, formação, nível de educação e criatividade dos colaboradores (Abdullah & Sofian, 2012). O Capital Estrutural é composto pelas bases de dados, softwares, redes de distribuição, organogramas, cultura corporativa, estratégias e políticas (Abdullah & Sofian, 2012). O Capital Relacional é composto pelos canais de Marketing, relações com os fornecedores e consumidores, lealdade do consumidor, rede governamental e industrial, intermediários e parceiros (Abdullah & Sofian, 2012). Por fim, o Capital Espiritual é composto por fé, moral, honestidade, ética, motivações, compromisso, entusiasmo e sinceridade nos negócios (Abdullah & Sofian, 2012).
Ainda não existe um entendimento acordado em relação ao Capital Espiritual (Wong, Michele; Palmer, 2013), mas a mensagem aqui em foco alinha-se com a abordagem não religiosa, defendendo assim o Capital Espiritual como sendo o universo existencial do próprio indivíduo; o caminho espiritual que todos temos que cruzar diariamente para crescermos e nos desenvolvermos como seres humanos que somos: os valores que representamos, as causas que seguimos, as ações que tomamos, os traços que revelamos, as palavras que proferimos, as motivações que carregamos, os medos que enfrentamos, os sonhos que perseguimos… e as empresas para as quais trabalhamos.
Tudo isto nunca foi tão importante. No contexto corporativo, o Capital Espiritual torna-se especialmente relevante dado o momento volátil, incerto, complexo e ambíguo (V.U.C.A) que vivemos, e que tem sido, erroneamente, interpretado e liderado pelos diretivos das empresas com políticas para captar e reter talento, segundo diretrizes de “fácil, rápido e barato”. Acontece que, atualmente, as empresas têm visto a sua realidade desafiada em dois sentidos: por um lado, começam a dar-se conta que a performance tem emoções, sentimentos, pensamentos e aspirações e, por outro lado, que os custos financeiros têm um significado, metas e valor transcendente. As empresas têm-se vindo a tornar organismos vivos em que toda a força de trabalho define a cultura, comportamento e impacto da organização (nas suas comunidades envolventes, sociedades e no planeta). O Capital Espiritual aplicado às empresas estende-se ainda à crença em algo superior ao indivíduo, um bem maior, e ao sentido da interdependência entre todos (Wong, Michele; Palmer, 2013).
A próxima década será muito desafiante devido à crise global a nível social, económico e ambiental que estamos a testemunhar, mas também porque as nossas sociedades se estão a voltar cada vez mais para a valorização do ser humano, como consequência das novas tecnologias que temos ao nosso dispor, do alerta-vermelho ambiental e do episódio da pandemia. Agora, temos que aprender sobre a verdadeira natureza das pessoas e das empresas para promover uma vantagem baseada num crescimento coletivo sustentado. Como Zohar e Marshall defendem, o Capital Espiritual é um recurso transformacional e «as organizações ricas em Capital Espiritual não são apenas sustentáveis, são evolucionárias».
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Referências
Abdullah, D. F., & Sofian, S. (2012). The Relationship between Intellectual Capital and Corporate Performance. Procedia – Social and Behavioral Sciences, 40(6), 537–541. https://doi.org/10.1016/j.sbspro.2012.03.227
Barney, J. (1991). Firm Reources ad Sustained Competitive Advantege. In Journal of Management (Vol. 17, Issue 1, pp. 99–120).
Cober, R. T., Brown, D. J., Keeping, L. M., & Levy, P. E. (2004). Recruitment on the net: How do organizational web site characteristics influence applicant attraction? Journal of Management, 30(5), 623–646. https://doi.org/10.1016/j.jm.2004.03.001
Gogan, L. M., Artene, A., Sarca, I., & Draghici, A. (2016). The Impact of Intellectual Capital on Organizational Performance. Procedia – Social and Behavioral Sciences, 221(0), 194–202. https://doi.org/10.1016/j.sbspro.2016.05.106
Machado, G., Loio, D., Sousa, D., Lajoso, J., & Au-Yong-Oliveira, M. (2018). The importance of sustainable innovation when defining corporate strategy. Proceedings of the European Conference on Innovation and Entrepreneurship, ECIE, 2018–Septe, 432–442.
Wong, Michele; Palmer, A. D. (2013). Clarifying the Concept of Spiritual Capital. https://doi.org/10.4324/9780203072639-10
Zohar, D. & Marshall, I. (2004). Spiritual Capital: Wealth We Can Live By, San Francisco: Berret-Koehler Publishers, Inc.