A RHmagazine falou com Manuel Holstein, co-fundador da Sense Health, uma plataforma voltada para o bem-estar, que permite às empresas reconhecerem problemas de burnout e/ou envolvimento, identificarem onde é urgente atuar, conhecerem os níveis de risco quinzenalmente e perceberem o sucesso das iniciativas implementadas.
Como nasceu esta aplicação de bem-estar no local de trabalho?
A Sense Health nasceu, quase naturalmente, como consequência de uma maior visibilidade do crescente número de casos de burnout.
A pandemia e os desafios que dela surgiram acabaram por colocar uma pressão adicional nas pessoas e nem as empresas nem os colaboradores estão equipados para identificar e prevenir estes casos. Surgimos para ajudar as pessoas e empresas a prevenir riscos, identificando sinais, sintomas e tendências precocemente, de forma a reduzir os casos de burnout.
O mercado está recetivo?
Estamos numa fase muito inicial, a melhorar o nosso produto diariamente, com base no feedback dos clientes. Apesar de ser ainda uma venda difícil, por não ser uma prioridade para muitas empresas, a recetividade tem sido bastante boa. Contamos com clientes de renome internacional e com muitos contactos de empresas com quem continuamos a negociar. Cada vez mais, as empresas compreendem que este tópico, para além da responsabilidade social, traz benefícios a nível de produtividade e, logo, financeiros.
Como funciona a empresa?
A Sense Health foca-se em dois pilares fundamentais: a identificação de risco de burnout/promoção da saúde mental e a medição do nível de envolvimento dos colaboradores. Para o burnout utilizamos um questionário com validade científica a nível nacional e em vários países na Europa e América, que identifica o risco em quatro escalas. Estes dados permitem que a pessoa conheça o seu nível de risco e saiba que medidas pode tomar para prevenir. Permite, também, que a empresa perceba qual o nível geral dos colaboradores relativamente ao burnout e envolvimento, que equipas necessitam de mais atenção, onde atuar e que iniciativas produzem melhores resultados. Garantimos sempre o anonimato dos colaboradores – as empresas apenas têm acesso a dados agregados.
Quem é o vosso público-alvo?
A saúde mental deve ser uma prioridade para todas as empresas, mas o nosso produto acrescenta mais valor a empresas com 100 ou mais colaboradores e que tenham como prioridade o bem-estar e a retenção de talento.
Quando os resultados mostram uma situação preocupante, o que recomendam?
Depende sempre da empresa, da situação e da combinação de resultados das diferentes escalas, que resultam num nível de risco de burnout elevado ou num nível de envolvimento preocupante. O nosso algoritmo sugere diferentes possibilidades e métodos de atuação, com base nos resultados e em dados históricos, que nos indicam quais as técnicas de mitigação mais eficazes em situações com algum grau de semelhança.
Como podem as empresas evitar situações preocupantes?
Vemos, frequentemente, empresas a anunciar que ofereceram uma semana de férias aos colaboradores ou as sextas-feiras até ao fim do ano, iniciativas pontuais e, muitas vezes, únicas. Estas medidas são, em geral, positivas mas insuficientes, porque são ‘cegas’. Não existe uma análise da raiz do problema e a atuação não o resolve. Ou não há coerência com a cultura empresarial e, após a iniciativa, volta tudo a funcionar da mesma forma. O mais importante é as empresas perceberem que é necessário definir e implementar uma estratégia para a saúde mental, de preferência focada na promoção. Estudos da Organização Mundial da Saúde e da Ordem dos Psicólogos Portugueses estimam um retorno do investimento bastante mais interessante quando o foco é a prevenção.
Entrevista publicada na edição n.º 136 da RHmagazine, referente aos meses de setembro/outubro de 2021.